Notas de final de ano

Instituições intergeracionais: Escrevi, no mês passado, uma crónica para o jornal Observador (“Uma Banda, para além da escola”) onde realcei o trabalho social de instituições como as Bandas Filarmónicas (que será certamente similar ao de teatros amadores ou coros, por exemplo). Regresso ao tema agora, com as principais conclusões dessa minha reflexão e apelando a que estas instituições possam ser olhadas por todos como agentes de coesão social.

As Bandas são um património cultural inigualável, que transcendem a música. São um veículo importante da difusão cultural e artística fora dos centros urbanos e são também salvaguarda de uma extensa memória coletiva. São instituições que vivem do voluntariado e do mecenato e são, também por isso, um exemplo a seguir para a construção de uma sociedade de instituições fortes.

Do ponto de vista educacional, proporcionam uma experiência ampla, que é complementar a muitos dos valores e aprendizagens que a escola convencional oferece. Entre essas competências sociais contam-se: a colaboração entre diferentes gerações e pessoas de níveis educacionais/ estratos sociais diferentes; a capacidade de liderar, escutar ou lidar com críticas; a consciência da necessidade de tomar decisões coletivas; valores de responsabilidade; entre outros. Por tudo isto, são instituições que mereciam lugar de maior destaque em estratégias (e apoios) das políticas sociais e educacionais.

É necessário fomentar parcerias com escolas e/ou instituições de apoio e pensar estas organizações como recursos importantes em estratégias de apoio à saúde mental e de bem-estar ou de envelhecimento ativo. Uma maior integração institucional – que implica uma transformação conjunta da ação pública e também destas instituições – poderia garantir inclusão social, acesso à cultura, desenvolvimento de competências transversais e promover o envolvimento comunitário.

Polémicas e voz da razão: Sempre que existe alguma polémica, vulgarmente tomada por grupos mais vocais e/ou extremistas, procuro sempre uma analogia ou uma visão fora da vozearia, pensada e intelectualmente honesta. Serve isto para enquadrar a polémica entre poder autárquico e órgãos de comunicação social locais. Um tema que, à escala, tem paralelo com a polémica do não endorsment do Whashington Post à candidatura Democrata, nos EUA. A isso seguiu-se a discussão sobre os ataques ao jornalismo e à sua reação encrespada. Sobre o objeto desta minha analogia existe uma crónica central, de Pedro Norton, «A luta pela credibilidade no jornalismo», de 05/11/2024.

Numa linha de pensamento concordante com o autor, julgo que a primeira responsabilidade de cuidar a credibilidade do jornalismo deve estar nos poderes formais do Estado: executivo, legislativo e judiciário. Titulares de órgãos públicos devem perceber que a sua palavra (bem como da comunicação institucional que promovem) vai além da opinião e posição pessoal ou política e que algumas narrativas, por vezes apenas úteis e de circunstância, têm consequências profundas a prazo. Dito isto, em tempos polarizados, o jornalismo (visto como o quarto poder) deve manter a objetividade e racionalidade, abstendo-se de posicionamentos intransigentes ou com estados de alma que, por norma, reforçam narrativas extremistas. Tudo isto implica que cada parte seja consciente dos seus vieses, responsabilidades e que não se tenha por voz última da razão.

Mensagem de final de ano: Neste Natal, face aos sinais dos tempos, devemos abraçar um espírito de união, colaboração e diálogo, enfrentando a crescente polarização com empatia e compreensão. Que seja um tempo de reflexão e compromisso. E que esse espírito (e reflexão) ajudem a que 2025 seja um ano de esperança e otimismo. Um Santo Natal e um próspero Ano Novo!

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