A Pirâmide de Maslow, conhecida por organizar as necessidades humanas desde as mais básicas até à autorrealização, pode ser uma ferramenta útil para estruturar prioridades e ações em Arouca. Esta abordagem permite pensar o desenvolvimento do território de forma equilibrada, centrada nas pessoas e nas suas necessidades mais fundamentais, com o objetivo de construir um futuro sustentável, justo e digno para todos.
Na base desta estrutura estão as necessidades básicas, aquelas que garantem o direito a uma vida com dignidade. Em Arouca, isso traduz-se em cuidados de saúde acessíveis e eficazes, assegurando não só a manutenção dos serviços de proximidade, mas também a sua qualidade. A cobertura da rede de saneamento, atualmente em torno dos 50% do território, com uma adesão de apenas 31% da população, revela um défice que precisa de ser resolvido com urgência. Também o abastecimento público de água potável, com uma taxa de cobertura de cerca de 80%, exige esforço para atingir uma cobertura total, garantindo também a manutenção da rede existente e a redução de perdas. A segurança e a acessibilidade alimentar são igualmente fundamentais, num concelho com características semi-rurais, onde a agricultura de subsistência tem um papel vital. Por fim mas não menos importante, garantir habitação digna e economicamente acessível, articulada com o Plano Diretor Municipal, é essencial para assegurar o bem-estar da população.
Superadas as necessidades básicas, é necessário promover a estabilidade e segurança que permite às pessoas projetarem o seu futuro com confiança. Isso implica oferecer uma educação de qualidade, que esteja fortemente ligada ao território e às oportunidades do mercado de trabalho. A dinamização da economia local deve passar pelo estímulo ao empreendedorismo e pela criação de emprego sustentável. É também fundamental garantir serviços públicos eficientes, próximos e confiáveis, que contribuam para a fixação da população através de políticas de coesão que promovam a permanência das pessoas no território. Neste nível, ganham ainda relevância as acessibilidades, enquanto fator de estabilidade e segurança territorial, permitindo a ligação eficiente entre freguesias e entre concelhos com os normais e necessários fluxos rodoviários, promovendo a mobilidade e combatendo o isolamento.
Com as bases asseguradas, surge a necessidade de promover o enraizamento territorial, permitindo que as pessoas vivam com identidade. Para isso, é essencial preservar e valorizar o meio ambiente e a paisagem envolvente, mas também adotar medidas eficazes para combater as ameaças ambientais, como os incêndios florestais. A proteção das florestas e da biodiversidade local deve ser uma prioridade, e isso inclui o investimento em práticas agrícolas e florestais sustentáveis que reduzam a vulnerabilidade ao fogo. Os recursos endógenos de Arouca — como a geologia, a biodiversidade, a gastronomia e o saber local — devem ser aproveitados de forma sustentável.
No topo da pirâmide está a realização coletiva, aquilo que permite a uma comunidade viver com propósito. Nesta fase, o território afirma-se como um espaço de criatividade, participação e entusiasmo. O desporto e as estruturas desportivas devem ser incentivados como formas de promoção da saúde e da convivência social. O fortalecimento do associativismo é igualmente vital, pois constitui o motor da participação cívica e cultural. A promoção de um turismo sustentável, ancorado na autenticidade do território, e a valorização e promoção da cultura são fundamentais para reforçar o orgulho coletivo e dar voz à identidade arouquense.
A aplicação da lógica da Pirâmide de Maslow ao território de Arouca permite estruturar o seu desenvolvimento de forma integrada e centrada nas pessoas. Da sobrevivência à realização, cada etapa é essencial e interdependente. No entanto, é fundamental que estas prioridades não sejam invertidas: não se pode construir um território realizado sem primeiro garantir que estão asseguradas as necessidades básicas da população. A sustentabilidade não se constrói apenas com projetos e investimentos; constrói-se, sobretudo, com decisões conscientes, com políticas públicas corajosas e com uma visão clara sobre as reais necessidades da população. Arouca pode, assim, tornar-se um território que cuida, cresce e se realiza. Paulo Teixeira (foto: Avelino Vieira)