Os movimentos anti-turismo têm vindo a ganhar expressão na última década. Veneza, Barcelona e Amesterdão são cidades centrais na expressão, por vezes radical, destes movimentos. Tipicamente, estes movimentos pretendem sensibilizar para os impactos do crescimento e massificação do turismo ou reivindicar compensações pelos mesmos. Entre as preocupações, de amplo espectro político, estão: o aumento do custo de vida, a perda de identidade cultural, a dificuldade no acesso à habitação (com a famosa gentrificação das cidades, a contestado substituição da população local por turistas ou estrangeiros) ou ainda impactos sobre o ambiente e sobrecarga da infraestrutura pública.
Em Portugal, os sinais dos movimentos anti-turismo têm sido ténues. A economia nacional depende largamente do turismo, com o sector a representar, em 2023, 12,7% do total da riqueza gerada e quase metade do crescimento real do PIB. Esta quase dependência, associada à memória recente de uma crise de desemprego, ajudará a sociedade a encarar a expansão do sector e os seus impactos com tolerância acrescida. Contudo, alguns dos impactos negativos do sector tornam-se difíceis de ignorar e vão surgindo sinais de uma discórdia latente (como a que incide sobre o Alojamento Local).
Os movimentos contestatários nascem tipicamente de diversos fatores, mas, no essencial, resumem‑se à desconexão entre quem ganha com o sector e quem sofre com os seus impactos. O turismo, sendo uma atividade de baixa produtividade (onde, por exemplo, um trabalhador mais eficiente não consegue alojar mais turistas do que os quartos de que dispõe), gera uma economia de baixos salários. Assim sendo, o grande prémio da atividade económica fica com quem tem a infraestrutura e os investimentos de capital (sejam unidades hoteleiras, restaurantes, etc.). Ou seja, se é verdade que o turismo traz dinheiro e dinamiza a economia (é considerado como uma exportação), também é verdade que esse dinamismo não gera empregos muito melhores e, no fim de contas, quem leva a maior fatia é quem já está numa posição económica privilegiada.
Em Arouca estes sinais são visíveis. O turismo tem vindo a representar um peso crescente na atividade económica do município. Além disso, este movimento tem ajudado a destacar muita da vitalidade cultural do concelho, a reconhecer a sua história e a realçar o seu património natural. Contudo, para a maior parte da comunidade, este dinamismo não trouxe ganhos substanciais nos níveis de rendimento das famílias (ordenados), melhoria de carreiras ou maior cobertura de infraestruturas públicas. Pior, existem efeitos desta atividade económica que, não sendo mitigados, prejudicam de modo direto a qualidade de vida: como o agravamento do preço da habitação, a dificuldade crescente no acesso a serviços ou o aumento dos preços na restauração, por exemplo. É fácil identificar duas ou três atividades económicas (ou tipo de estabelecimentos) que têm ganho bastante com o turismo sem que isso se tenha refletido diretamente na melhoria das condições dos seus trabalhadores, na melhoria do serviço prestado ou em ganhos globais para a sociedade.
Não alinho num discurso anti-investidor/capitalista que muitas vezes motiva este tipo de movimentos. Mas acompanho algumas das preocupações que eles expressam. Existe uma necessidade real de equilibrar os ganhos da atividade económica com os seus prejuízos sociais (as famosas externalidades negativas). E, para isso, quem ganha mais com a atividade (como a restauração ou alojamento), deve ser chamado a contribuir para a comunidade. Além disso, uma estratégia monocultura, com o turismo a ser o alfa e o ómega de uma estratégia de desenvolvimento, também não garante sustentabilidade social e económica – veja-se a crise do covid-19 e o impacto sobre regiões mais dependentes da atividade turística. Por fim, por muito apelativa (ou sexy) que seja esta atividade, podendo mesmo ter grandes vantagens de projeção mediática, devemos garantir que não existe deslumbramento pelo setor e que o esforço (e investimento) público colocado é proporcional ao ganho social dessa atividade.