No dia 10 de outubro assinalou-se o Dia Mundial da Saúde Mental, tendo sido divulgados os dados de um estudo sobre a saúde mental dos estudantes do ensino superior. A prevalência de sintomas depressivos e ansiosos entre esta população é alarmante e as implicações vão muito além do ambiente académico. É urgente agir!
Os números revelam que quase 23% dos estudantes referem ter um diagnóstico de doença mental, e destes, 49,7% referem ter sido diagnosticados após o início da pandemia. A ansiedade (19,4%) e a depressão (13,3%) foram as patologias mais referidas, com quase 40% dos universitários a apresentar sintomas depressivos e ansiosos moderados a graves. Estes dados não são apenas números, são vidas em sofrimento, repletas de potencial, mas fragilizadas por uma crise que parece não ter fim.
O estudo destaca que os estudantes do sexo feminino, os pertencentes a classes socioeconómicas mais baixas e os estudantes deslocados que vão com menor frequência a casa, são os mais afetados. De facto, as questões socioeconómicas são consistentemente referidas em vários estudos nacionais e internacionais, bem como pela Organização Mundial da Saúde (OMS), como determinante chave para a saúde, quer física, quer mental. No entanto, continuamos com um custo de vida elevadíssimo e salários que não acompanham o aumento crescente dos preços. Isto traz repercussões graves para a saúde, e consequentemente, para o desenvolvimento socioeconómico do país.
Os dados do estudo levantam questões sérias sobre o estado da saúde mental em Portugal, sendo os jovens os que mais sofreram as consequências da pandemia nesta área.
Exige-se um olhar sério sobre estas questões e uma atuação não só ao nível das universidades, como também dos cuidados de saúde oferecidos no SNS e nas escolas do ensino básico e secundário. Embora algumas universidades já estejam a implementar algumas iniciativas para promover a saúde mental e aumentar o apoio psicológico, estas são claramente insuficientes.
Tal como existem consultas de promoção da saúde física e prevenção da doença nos cuidados de saúde primários, deverá também apostar-se em programas de promoção da saúde mental para toda a população ao longo do ciclo vital. Por exemplo, o pós-parto é o período da mulher onde há um maior risco de sofrer de doença mental, no entanto, a vigilância da gravidez e do puerpério recaí sobretudo na saúde física. O tempo para a realização das consultas de vigilância médicas e de enfermagem deve ser alargado, para dar suporte a estas questões e para que haja uma efetiva avaliação da saúde mental da pessoa desde a infância até à idade adulta. Quer isto dizer, que o rácio de utentes por equipa de família deve ser menor. Temos excelentes profissionais de saúde no SNS, mas vivem em constante corrida contra o tempo.
Destaca-se que a maioria dos jovens referiu que os motivos para não procurar ajuda psicológica seriam: a ajuda profissional é cara (62,2%) e o longo tempo de espera para conseguir uma consulta (54,7%). Estes dados revelam a urgência de políticas de saúde mental mais acessíveis e eficazes.
Somente com uma ação concertada entre a saúde e a educação conseguiremos que os nossos jovens sejam saudáveis física e mentalmente com repercussão no desenvolvimento socioeconómico do país.
A saúde mental deve ser uma prioridade. É hora de agir e garantir que os nossos jovens prosperem em todos os aspetos das suas vidas e sejam felizes.