A vida política nacional é uma verdadeira caixinha de surpresas. Desde Março do ano passado, após as eleições legislativas antecipadas e atendendo à vitória de Pirro alcançada pela Aliança Democrática, que se adivinhava uma vida curta para o governo minoritário liderado por Luís Montenegro.
No entanto, ninguém imaginaria que o governo de centro-direita viesse a cair devido a irregularidades na vida profissional/familiar do primeiro-ministro, culminando duas semanas de intensa polémica política e mediática.
Chegados aqui, os portugueses vão ser chamados três vezes às urnas nos próximos dez meses, para as eleições legislativas, autárquicas e presidenciais.
Numa altura em que as escolhas dos candidatos autárquicos estavam na ordem do dia da política nacional e local, a nova realidade veio baralhar a agenda política-partidária, uma vez que as eleições legislativas previsivelmente serão no próximo mês de Maio. Perante este novo cenário, só a partir de Junho é que se começará verdadeiramente a discutir as eleições autárquicas que terão lugar no início do Outono.
Tirando os meses de Verão em que o eleitorado por norma desliga da vida política, o período dedicado às eleições autárquicas será certamente reduzido praticamente a dois meses, o que manifestamente é muito pouco para a apresentação e discussão das propostas de cada um dos partidos ao acto eleitoral.
Mas a realidade é esta e será com ela que teremos que conviver nos próximos tempos que se avizinham muito intensos, numa altura em que o mundo vive numa perigosa vertigem.
Descendo agora à nossa realidade local, e como afirmamos na última edição, o longo silêncio político-partidário sobre as candidaturas às eleições autárquicas começa a ser inquietante, sobretudo da parte da oposição, uma vez que quem está instalado no poder, por norma, prefere arrastar o anúncio da sua recandidatura mais para próximo do acto eleitoral.
E aqui chegados, e como o assunto começa a fazer parte da ordem do dia, vamos procurar fazer alguma reflexão e especulação sobre os potenciais candidatos ao cadeirão municipal.
O Partido Socialista lidera a autarquia há trinta e dois anos e já teve três presidentes de Câmara durante este longo consulado. Margarida Belém será, certamente, candidata a um terceiro e último mandato à frente dos destinos da autarquia para tentar fechar um ciclo de doze anos de presidência. Apenas duas dúvidas, que não são de somenos importância, nos assistem sobre esta recandidatura.
A primeira tem a ver com declarações do secretário-geral do Partido Socialista, Pedro Nuno Santos, à comunicação social, onde afirmou categoricamente que nenhum potencial candidato do PS às eleições autárquicas acusado de algum processo judicial irá a votos pelo partido. Margarida Belém foi acusada e condenada judicialmente por irregularidades no desempenho da sua actuação enquanto autarca, situação que provocou um clamor de críticas e pedidos de demissão por parte da oposição.
Perante este curriculum judicial, e as afirmações de Pedro Nuno Santos, a questão que se coloca é se o PS continuará apostar mesmo em Margarida Belém nas próximas autárquicas? Se a posição for desfavorável a Margarida Belém, esta avançará com uma Lista Independente? Vamos aguardar para ver qual vai ser a posição final do Partido Socialista e da autarca.
Quanto ao outro lado da trincheira, tudo se perspetiva novamente para uma ampla coligação de centro-direita onde marcarão presença o PSD/CDS/PPM. O candidato, apesar de ainda não ter sido anunciado, todas as informações de que dispomos é que Vítor Carvalho voltará a ser mais uma vez o escolhido. Depois do longo tirocínio na oposição, primeiro como número dois de Fernando Mendes (2017) e a seguir a solo (2021), Carvalho irá pela terceira vez consecutiva a votos. Apesar de reconhecidas as suas qualidades técnicas e humanas, tem-lhe faltado sobretudo instinto político e sagacidade no desempenho das suas funções como líder da oposição.
Todos sabemos que o lugar de líder de oposição é ingrato, mas quem ambiciona chegar ao poder tem que ter uma atitude proactiva e de “cerco político” ao poder e assumir-se perante o eleitorado como uma verdadeira alternativa, posição que Carvalho, objectivamente, não tem assumido, deixando muitas vezes o executivo camarário “à solta e a seu belo prazer” para difundir a sua máquina de propaganda através do seu “exército” de colaboradores da área da comunicação.
Os próximos tempos serão decisivos para a afirmação inequívoca de uma alternativa política e de um projecto credível de desenvolvimento para o próximo quadriénio.
Quanto aos pequenos partidos, existe alguma curiosidade sobre os rostos que irão apresentar-se a sufrágio. A lista da CDU poderá novamente ser encabeçada por Lara Pinho que esteve em bom plano nas últimas eleições autárquicas, com um discurso tranquilo mas assertivo, apresentando um conjunto de propostas interessantes em diferentes áreas da gestão municipal.
A grande surpresa poderá vir do partido Chega, que já tem estrutura organizada no concelho de Arouca, através da apresentação de um candidato que baralhe a aritmética eleitoral e vários nomes conhecidos da política local têm circulado em surdina como potenciais cabeças-de-cartaz em Arouca do partido de André Ventura.
A Iniciativa Liberal será o partido debutante no acto eleitoral, estando a sua inclusão na coligação de centro direita afastada pelos seus dirigentes.
O município de Arouca só por duas vezes não foi governado em maioria absoluta de um só partido, em 1989 (PSD) e em 2005 (PS), a bipolarização (PSD ou PS) tem sido tónica dominante ao longo das quase cinco décadas de poder local.
O ano de 2025 promete muita agitação e dramatismo político!