Quatro temas, os do título, a carecer, cada qual, de abordagem bem mais alongada do que a que esta página consente. Contudo, a sua actualidade ou interconexão levam a que aluda a todos ainda que apenas pela rama e muito ao de leve:
•FOGOS: Este ano o flagelo do costume. Ainda as florestas não se haviam recomposto do anterior e já novo fogo as devastou, levando na violência das labaredas, mais uma vez, culturas agrícolas, habitações, fábricas, vidas humanas. No passado próximo, de pouco mais de meio século, não era assim. Em Arouca, ainda não havia sequer abnegados soldados da paz, e os fogos, quando os havia, jamais atingiam as proporções das do presente. Os montes e os campos estavam limpos. Nuns e noutros, palcos de vidas pobres e muito sofridas, tudo se aproveitava. O clima, para cuja degradação os fogos tanto contribuem, também era outro, mais equilibrado, mais sadio, mais inimigo dos fogos. Agora que a desgraça aconteceu, voltou a ladainha de sempre: “vão-se tomar medidas que impedirão a repetição de tamanhos flagelos”. As tomadas até aqui, para além de ineficazes, são quase sempre rematado disparate: a esmagadora maioria das pessoas e mesmo as autarquias e o próprio Estado não têm condições para as cumprir, limpando o que a lei lhes impõe que limpem. Aliás, a lei proíbe que se limpe, e bem, ainda que contraditório, precisamente na época em que a vegetação mais cresce e se expande! António Costa, Primeiro-Ministro, aquando dos flagelos de há sete e oito anos, prometeu a criação de várias centrais de biomassa para tornar viável a limpeza das florestas e o aproveitamento dos seus resíduos. Perdurou a promessa. Manuel Castro Almeida, actual Ministro com a pasta, para além das mais, da “coesão do território”, prometeu agora o mesmo e tornar a floresta rentável. É bom que a promessa se concretize. Mas não basta criar centrais de biomassa: é preciso regular e tornar viável e eficaz o seu funcionamento. E, nisso, não é demais repeti-lo, investindo fortemente o Estado, muito e com enorme retorno, a todos os níveis, economizará, ano a ano, com a redução do número e, sobretudo, da dimensão dos fogos e da perda, sem preço, de vidas humanas.
•A VIA ESTRUTURANTE: Volto à Via, porque agora, após um largo período de ensurdecedor silêncio, o assunto volta a ser falado. Motivo para isso, a boa notícia transmitida na versão online deste Jornal de que a proposta de Orçamento de Estado (OE) insere uma rubrica com uma verba de 28 milhões de euros para a próxima fase da obra entre a Ribeira e a Abelheira. Volto a ela também, por falar em Castro Almeida, Ministro. É Ministro destacado, adjunto do Primeiro-Ministro, cabe-lhe a gestão dos fundos úberes do PRR, é natural da Feira, onde a Via vai ter, conhece Arouca, as suas carências e as prioridades do Entre Douro e Vouga, que o próprio, há muito, enquanto Presidente da Câmara de S. João da Madeira, ajudou a elencar e ordenar. É importante, e com isso nos devemos regozijar, que a obra possa figurar no OE. Sem isso, a obra não pode avançar. Mas não podemos iludir-nos: a consignação de uma verba, como se noticia, às Infraestruturas de Portugal, não significa que a obra vá avançar para o ano. Se bem julgo, o referido troço da Via não tem ainda sequer projecto. Tem estudo prévio elaborado já há cerca de um quarto de século. E não podemos esquecer que no próximo ano há eleições autárquicas. Por isso, para que tudo não fique no papel, deverá Arouca buscar, com denodo, o decisivo apoio e intervenção de Castro Almeida, no sentido de que, se o OE for aprovado, os múltiplos, complexos e demorados trâmites a realizar ou cumprir, até ao lançamento do concurso para a realização da obra, se vençam com toda a celeridade, para que dentro do menor número de anos possível, essa fase (ainda não é a última, como melhor que ninguém sabe Castro Almeida) da Via se concretize, como é de justiça e as instantes necessidades de Arouca impõem.
•ORÇAMENTO – O VOTO PS: Pedro Nuno Santos é, manifestamente, um homem de esquerda. Secretário-Geral do maior partido português, no qual coabitam diversas e muito diferentes correntes e sensibilidades, tem, apesar da sua ainda invejável juventude e irreprimível vontade de fazer e fazer depressa, de procurar preservar a unidade do conjunto de todas essas diferenças, essencial razão da força do partido, tarefa que, há-de convir-se, não será nada fácil. Porém, isso, e também o que, nas actuais circunstâncias, poderá ser o interesse do País e a vontade prevalecente dos Portugueses e ainda o cuidado a ter para evitar que o erijam em bode expiatório por tudo o que se não faça e por todas as insuficiências, erros e insucessos da governação, tudo concorrerá para que, mesmo discordando vigorosamente do Orçamento de Estado para 2025, apresentado pelo Governo, o não inviabilize.
•NOBEL DA PAZ: O prémio Nobel da Paz acaba de ser atribuído à Nihon Hidankyo, associação japonesa de sobreviventes das bombas atómicas de Hiroshima e Nagasaki que alerta para os efeitos arrasadores de uma eventual guerra nuclear, a qual, a acontecer, pode ser a última para a Humanidade e para toda a vida no Planeta. Bem atribuído, por isso, nos tempos que correm, o Nobel da Paz.
[texto publicado na edição impressa do RODA VIVA jornal de 2024.10.17]