Estaremos a tornar-nos marionetas?

Com a evolução tecnológica e o desenvolvimento da Inteligência Artificial (IA) urge a necessidade de uma mudança nas práticas de ensino de forma a promover o pensamento crítico.

Vivemos hoje em dia uma escalada no aparecimento de sintomatologia depressiva e ansiosa nos jovens e adolescentes nunca antes vista. Apesar de serem vários os fatores sociais que poderão estar a contribuir para este fenómeno, não tenho dúvidas de que a dificuldade em pensar criticamente sobre as coisas, sobre si mesmo e sobre os outros, é um dos que mais se destaca. Esta dificuldade surge, em grande parte, pela facilidade com que hoje em dia se obtêm respostas, sejam elas reais ou manipuladas. Basta escrever no google ou perguntar ao chat GPT. Ou então, uma chamada para um adulto também “resolve o problema”.

A utilização de telemóveis numa fase precoce é outro fator que dificulta o pensamento crítico, diminuindo a interação social e a aprendizagem, seja com os pares, seja com os pais ou outras pessoas significativas. Vejamos este exemplo, uma criança cai no contexto escolar e tendo telemóvel contacta de imediato os pais para que estes lhe digam o que fazer. Não tem tempo para pensar: “eu caí, o que devo fazer agora?” Ou seja, sempre que há uma situação que implica uma tomada de decisão simples ou complexa a resposta é imediata, seja através da pesquisa na internet ou utilização da IA, seja através de uma chamada telefónica. Esta facilidade de acesso a respostas, que nem sempre são as mais adequadas para aquela pessoa, limita o desenvolvimento do pensamento crítico, da tomada de decisão e da capacidade para a resolução de problemas.

Por sua vez, ao estarmos limitados na capacidade para tomar decisões analisando as vantagens e as desvantagens de cada uma, e para a resolução de problemas, teremos também dificuldade em lidar com as emoções quando surgem situações que nos afetam emocionalmente. O pensamento crítico e as capacidades mencionadas estão interligadas e intimamente relacionadas com a saúde mental.

Se nada fizermos, teremos uma sociedade de marionetas que se limita a seguir e a acreditar no que lhes é imediatamente impingido em cada momento e que vai decaindo e fragilizando. A pandemia foi um excelente exemplo disso mesmo.

Sem querer desvalorizar o vírus que é real, a forma como a informação foi transmitida foi excelente para fragilizar a população. O fator mais importante no combate a um vírus foi desvalorizado, que é sem qualquer dúvida o reforço da imunidade! Alguém ouviu falar em estratégias para o reforço da imunidade? Alguém ouve falar nas sequelas em termos de saúde mental e física que ficaram não pelo vírus, mas pelo medo e stress causado durante o período pandémico e das muitas doenças que ficaram por diagnosticar ou por tratar? Todas as vozes que tentaram alertar para o reverso da medalha foram caladas e chamadas de negacionistas.

Dei este exemplo apenas para alertar para a importância e a urgência de termos uma sociedade que questiona e que pensa criticamente. Só seremos verdadeiramente livres se cortarmos os fios que nos prendem como se fossemos marionetas e fortalecermos a nossa capacidade de reflexão e de decisão. Vamos deixar as marionetas apenas como uma forma de arte!

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