O ranking das escolas é uma ferramenta útil de análise do desempenho médio dos alunos. É certo que esta classificação está limitada na sua formulação, dado que usa apenas a classificação desses alunos nos exames – sobrevalorizando a performance nos exames aquando da formulação da oferta educativa de uma escola. É certo, também, que tem o potencial de estigmatizar certas escolas (em particular quando existem várias num raio reduzido). E é certo que avalia resultados ignorando o contexto socioeconómico.
Por tudo isto, deve ser olhado mais como uma métrica de análise do passado, ajudando a orientar a ação do presente, do que de avaliação da oferta educativa de uma dada escola. Ainda assim, não deixa de ser o instrumento possível de transparência, indicando o desempenho académico das escolas e permitindo sinalizar escolas onde o trabalho tem sido positivo. Deve também constituir um instrumento de mobilização para todos nós, comunidade, sobre o que se passa no nosso ensino.
Analisando o resultado histórico das escolas de Arouca no ranking entre os anos de 2018 e 2024, existem alguns fatores que chamam a atenção (e que levantam questões):
- O número de provas realizadas tem vindo a diminuir – muito provavelmente fruto do envelhecimento e redução da população jovem em Arouca e também do fim da obrigatoriedade de alguns exames;
- O grau de escolaridade das mães – um fator muito determinante no sucesso escolar das crianças – tem aumentado, ainda que muito ligeiramente;
- A escolaridade média das mães da escola de Escariz é consistentemente inferior, em cerca de um ano, aos da escola de Arouca – que, segundo vários estudos, está normalmente associado a um desempenho inferior e deveria ser fator para reforçar o apoio educativo;
- O número de crianças sem ação social tem vindo a aumentar – o que não permite perceber se é fruto de um contexto social melhor ou de mais restrições à obtenção do apoio;
- Os apoios sociais têm uma variação superior na escola de Escariz (entre 24% e 69% de alunos com apoio social num dado ano) do que na escola de Arouca (entre 33% e 50%). Além disso, verifica-se uma maior correlação entre a posição obtida no ranking e o número de alunos sem ação social em Arouca do que em Escariz, algo a considerar na análise de contexto;
- O resultado dos anos de 2018 e 2019 foram os piores da série, sendo 2020 um ano em que os resultados globais melhoraram bastante. Desde este ano da pandemia a tendência tem sido a de descer no ranking. Terá o período da pandemia afetado em menor grau os alunos de Arouca do que os restantes alunos a nível nacional e essa diferença começa a diminuir?
Apesar das ressalvas metodológicas que se podem levantar, é interessante olhar também para o ranking alternativo do jornal PÚBLICO e da Católica Porto Business School, ajustado ao contexto social. Neste ranking de superação, as escolas de Arouca sobem a sua classificação relativa – o que indicia que o contexto social é pior que a média nacional. Adicionalmente, existe tipicamente uma “menor superação” na escola de Escariz face à escola de Arouca. Ou seja, os resultados ajustados ao contexto social tendem a fazer com que a escola de Arouca melhore mais a sua posição relativa do que a de Escariz.
A escola não é formada, nem deve ser assim pensada, apenas como o conjunto de alunos, professores e agentes educativos. A escola (e a sua qualidade) é dependente da comunidade que a suporta – seja pela intervenção das famílias, pelas infraestruturas que oferece, pelo contexto social, pela ligação ao meio exterior, pela dinâmica democrática que a envolve ou pela oferta cultural de que dispõe. Assim, o ranking das nossas escolas é também o ranking da nossa comunidade.
Com estas conclusões deveríamos olhar as nossas escolas: perceber o contexto, as necessidades e limitações. E, com isso, agir para que a escola possa ser um verdadeiro elevador social.