Para quem por cá ainda vai andando, o conterrâneo Arnaldo Pinho, que “desabrochou para a vida eterna da alegria”, foi uma das mentes brilhantes do nosso meio e do nosso tempo.
Foi presbítero da Igreja Católica, cónego do Cabido da Diocese do Porto, perito em teologia narrativa: “fez da própria cultura um lugar hermenêutico da fé, fez dela não apenas um contexto, mas espaço de revelação, interrogação e fecundação mútua”, na observação de Nuno Higino, editor da sua obra.
Foi um académico, professor na Universidade Católica, “onde formou durante quarenta anos muitas gerações de alunos” e onde (também) nem sempre foi um talento bem aproveitado. Foi um estudioso erudito em áreas importantes das Ciências Humanas.
Foi juiz da Real Irmandade da Rainha Santa Mafalda. A Autarquia arouquense reconheceu a importância e o mérito dos seus variados contributos atribuindo-lhe, em sessão pública, a Medalha de Mérito Municipal, distinção que ele próprio endereçou à Real Irmandade, uma das paixões mais acrisoladas dos seus dias. Notável o seu contributo na efectivação do protocolo tripartido de colaboração estreita e fecunda entre o Poder Central, o Município arouquense e a Real Irmandade para gestão do património conventual, que inaugura um modelo exemplar e único no País.
O Arnaldo foi tudo isto e muito mais. Mas nunca deixou de ser uma presença amiga, afável, próxima, bem-humorada, arguta e atenta às vicissitudes da vida. Tão impressiva foi a sua vida, que a sua presença se mantém na memória saudosa de quem o conheceu e com ele privou mais de perto. Presença disponível naquilo que com ele aprendemos e na sua reflexão acessível nos cinco volumes editados pela Letras e Coisas.
O Arnaldo: a sua presença física, a sua voz, vão fazer-nos falta. Quem não recorda o Arnaldo na festa da Rainha Santa a ensinar, por ocasião da homilia, a uma assembleia que enchia o templo, a história e o impacto da presença cisterciense nas terras de Arouca? Com que entusiasmo o fazia de tão convicto estava daquilo que concebia e ensinava como a matriz da identidade do Povo de Arouca! “Arouca: um Povo, uma Santa, um Mosteiro”… como recordava e repetia.
Um homem livre, lúcido, de cultura, “sagaz observador da vida”, aberto ao Futuro incorporando na sua reflexão contributos de destacados pensadores e artistas com alguns dos quais manteve relações de mútuo apreço.
“O Arnaldo serviu a Igreja do nosso tempo. Deixa-nos um legado de pensamento, reflexão e acção cultural ímpares na Igreja Católica e na Diocese do Porto, que ultrapassam os limites da instituição eclesiástica”, na síntese de Jorge Cunha.
Invade-nos a nós, cristãos nesta terra de Arouca, a amargura de não termos aproveitado “quem percorreu a vasta Diocese a ajudar os padres a fundar os Conselhos Paroquiais de Pastoral… procurou e conseguiu, muito antes de se falar de sinodalidade, que as comunidades cristãs fossem espaços de participação…”. Também nós, com Jorge Cunha, “esperamos que o potencial do pensamento do Arnaldo seja mantido vivo para bem de todos os que beneficiaram do seu magistério, que tem muito a dar às gerações futuras”. A. Teixeira Coelho (foto: UCP)