A política, a ética e o turismo

Vamos ter no dia 18 de Maio as eleições legislativas antecipadas e já são conhecidas as listas dos deputados. Pelo círculo de Aveiro, Arouca vai estar representada em três partidos e numa coligação, no entanto, nenhum dos candidatos será eleito, uma vez que se encontram posicionados em lugares inelegíveis.

A maior surpresa, que se repete em relação às legislativas de 2024, é a ausência de qualquer elemento indicado pelo PSD Arouca na lista da AD, depois da saída de Rui Vilar do sétimo lugar ocupado em 2022, em que foi eleito para o hemiciclo de São Bento.

José Américo Pereira (1º PPM), Pedro Magalhães (10º AD – indicado pelo CDS), Valter Cruz (12º IL) e Pedro Sousa (13º PS) são os arouquenses que vão a votos.

Curiosamente, todos os candidatos a deputados foram colaboradores do RODA VIVA em diferentes períodos da história do jornal, permanecendo actualmente Valter Cruz com uma coluna de opinião neste órgão de comunicação social.

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A Câmara Municipal e a Santa Casa da Misericórdia de Arouca são duas instituições basilares no nosso município, dada a sua dimensão humana e financeira e os serviços que prestam à comunidade.

Ao longo dos tempos foram crescendo e alargando o seu campo de intervenção junto dos arouquenses, assumindo um papel fundamental no apoio a inúmeras famílias mais carenciadas, através das respostas sociais que vão prestando, tornando-se, nalguns casos, vital esse apoio aos agregados familiares carenciados.

Ambas as instituições são olhadas pela população como estruturas credíveis e confiáveis e nas quais têm ocupado lugar de gestão, ao longo de décadas, figuras acima de qualquer suspeita.

Por isso, é com um sentimento de incredulidade que os arouquenses têm assistido nos últimos dois anos aos sucessivos casos judiciais envolvendo aquelas duas instituições e os seus líderes: no que toca à autarquia, Artur Neves e Margarida Belém foram condenados pelos tribunais por irregularidades graves, lançando uma mancha na gestão do município de Arouca, nada habituado a comportamentos políticos punidos com penas de prisão (suspensa); relativamente à Santa Casa e ao seu actual provedor, Vítor Brandão, vão começar a ser julgados pelos crimes de corrupção, acusação pesada para uma instituição de pendor religioso e que deveria estar acima de qualquer suspeita.

Estes casos levam-nos a concluir que a prolongada estadia no poder de dirigentes políticos e associativos, em instituições com orçamentos generosos, são potenciadores de atitudes “quero posso e mando” e de um certo sentimento de impunidade.

Numa altura em que vamos entrar numa época de pré-campanha eleitoral para as eleições autárquicas, seria o momento ideal para se debater e reflectir seriamente sobre este tipo de situações que em nada dignificam as instituições e que fazem crescer o clima de desconfiança da população sobre os seus dirigentes políticos.

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Foram publicados recentemente os rankings nacionais das escolas públicas e privadas referentes aos exames do 9º e 12º ano, realizados no ano lectivo passado.

Os dois agrupamentos do município – Arouca e Escariz – registaram posições bastante meritórias, atendendo às características sócio e económicas do concelho.

Mas como a qualidade das aprendizagens e o sucesso dos alunos verificáveis através dos rankings não são a única missão de uma escola, gostaria de sublinhar a enaltecer as inúmeras actividades e projectos que são levados a cabo pelos dois agrupamentos arouquenses ao longo do ano escolar, que permitem um desenvolvimento integral dos nossos jovens, preparando-os para os duros desafios da vida adulta e profissional.

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Na sequência da febre turística e de construção desmesurada de inúmeros empreendimentos turísticos que tem assolado todo o país, também Arouca vai ter direito a dois novos hotéis de luxo de cinco estrelas.

Convém, no entanto, recordar aos mais distraídos que a grande maioria dos empregos gerados pelo sector turístico são empregos com baixos salários, precários e que não requerem muita mão de obra qualificada. Além da sua sazonalidade e instabilidade motivada pela forte concorrência internacional do sector.

Por isso, não compreendo, ou talvez sim, a tamanha excitação que tem provocado a abertura de uma nova unidade hoteleira em Arouca, situada na ala sul do Mosteiro, que vai deixar de estar de portas abertas para a comunidade, depois de décadas de uma relação de grande proximidade e cumplicidade com aquele espaço e que a partir de agora será apenas uma memória na vida dos arouquenses. O segundo hotel a abrir portas será no empreendimento hípico das Quintãs. (foto: Avelino Vieira)

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