Prometer não custa, aliás, até sai barato. A questão é que, em Arouca, a Palavra tem um preço muito baixo, diria até que está saldos, e também um prazo de validade bem curto. O actual executivo camarário tem-se especializado numa arte peculiar: transformar promessas em meras figuras de estilo, e naquele já seu característico ilusionismo que, juntos, servem apenas para adornar discursos e alimentar manchetes. Lembremo-nos de algumas dessas pérolas: a promessa de maior transparência na gestão municipal, a revitalização do comércio local através de uma plataforma digital (mesmo que o projeto tivesse iniciado, não se explica como, quem e quanto vai custar a ativação, manutenção, gestão, etc. daplataforma) a melhoria dos acessos rodoviários e a garantia do serviço de transportes públicos a todos, o saneamento público para todos, ou mesmo a grandiosa visão de um município mais moderno, sustentável e eficiente. Tudo fantástico no papel, mas, como bem sabemos, palavras sem ação são apenas vento, já diz o ditado: “palavras leva-as o vento”! E, em Arouca, há muito vento a soprar dos gabinetes municipais, mas pouco, muito pouco para mover os moinhos da mudança real.
O mais curioso é que, não cumprindo a Palavra dada, o executivo parece acreditar que o truque está na forma como a história é contada e, é aqui que entra a Comunicação, porque, se a realidade não encaixa na narrativa, então, com mais um simples truque de ilusionismo, molda-se a narrativa à realidade desejada. Para isso, vale tudo: utiliza-se a própria estrutura municipal para vender um conto de fadas, mobilizando meios humanos, financeiros e institucionais numa campanha de autoelogio e egocentrismo permanente; de repente, os mesmos projectos que estão parados ou a meio-gás são apresentados como grandes sucessos; as dificuldades financeiras são sinais de boa gestão e até as críticas da oposição ou opiniões diferentes são apenas “intrigas” de quem “não quer o bem do concelho” nem dos Arouquenses.
As redes sociais do município, outrora um espaço de informação isenta, tornaram-se um palco de propaganda institucional, onde a realidade é moldada e distorcida com tamanha desfaçatez, com um filtro que faria corar qualquer influencer e, até as inaugurações são acompanhadas de sorrisos fotogénicos, as reuniões técnicas transformam-se em eventos de grande impacto e pasme-se, os problemas estruturais são apresentados como desafios que estão “a ser resolvidos” com um otimismo inquebrantável. Este ciclo de prometer, não cumprir e maquilhar a realidade tem um efeito nefasto: afasta as pessoas da política. Porque quando a Palavra perde valor e a Comunicação se torna um jogo de manipulação, os munícipes deixam de acreditar, metem todos “no mesmo saco”, abominam a política e qualquer interacção directa com a mesma e, passam a ver a câmara municipal como um cenário de teatro onde a peça é sempre a mesma: a do poder a perpetuar-se, enquanto os verdadeiros problemas continuam por resolver.
Curiosamente, já se vê a estratégia para as próximas eleições: mais promessas, mais eventos cuidadosamente encenados e mais discursos recheados de palavras bonitas, mas vazias de compromisso porque, no fim, a questão nunca foi governar para melhorar a vida dos arouquenses, mas sim para manter os “vassalos” entretidos e a maquinaria do poder bem oleada. Resta saber se, desta vez, os munícipes vão continuar a cair no encanto da Palavra ou se vão exigir que esta venha acompanhada de algo revolucionário em Arouca: a Verdade e o Cumprimento.” Valter Cruz