A Feira das Colheitas e a “vergonha” do folclore arouquense

Os nossos avós merecem-nos: veneração, respeito, dignidade e educação. E, sobretudo, quando fazê-lo nos tempos de lazer… manifestações de terreiro.

O que vimos, na tarde de domingo, na Feira das Colheitas deste ano, trazidas a público por certos grupos ditos de “Folclore” (?), não eram manifestações dignas de honrar os nossos Avós, que, de sol a sol desbravavam a terra com o suor do rosto. Tais grupos são dignos de pena… de dó…

Quanta ignorância e estupidez!

Os nossos avós fizeram nascer manifestações culturais ligadas às condições socioeconómicas que os envolvia a dureza da vida, mas sempre em contexto fundamentado.

Depois de um tempo durázio à enxada ou picareta… não lhes restava folia para tantos “pinotes”.

As nossas mães e avós jamais expunham o seu corpo na dança.

“No rodar das saias está a cultura dum povo: o pudor. O mesmo é dizer: de um grupo de folclore”. São palavras textuais do nosso muito querido e saudoso José Maria Marques que, de norte a sul não se cansava de “gritar”. E vai mais longe nas suas intervenções públicas: “Criam-se grupos de folclore como quem cria erva num vale tudo. Se não se sabe, não se faça. Aprenda-se, conheça-se, primeiro”.

Entre o público, que, na Praça Brandão de Vasconcelos, assistia ao evento, ouvimos coisas como esta (e registamos): “Isto sim! Parecem cavalos n’arena”!”.

Apraz-nos acrescentar: quanto mais estupidez, mais evidência coreográfica aplausiva.

Os nossos antepassados, em tempo algum se identificavam como palhaços. Mesmo as manifestações carnavalescas tinham o seu fundamento. Talvez, por isso, uma faixa da actual sociedade (felizmente) não leva a sério este sector cultural.

Se o folclore é a “ciência da vivência” de um povo, não temos o direito de denegrir uma herança que nos foi legada, cujas raízes mergulham na ancestralidade do nosso povo e nos identificam com séculos de história. E muita tinta tem feito correr nas universidades…

Arouca possui um manancial deste património- cultural. Saibamo-lo descobrir, preservar e divulgá-lo aos vindouros, na certeza de sermos honestos do terreno que calcamos, sem mentiras…

Antes “condenados” pela verdade, do que covardes pela mentira e pelo silêncio. Marina Perestrelo (foto: Carlos Pinho)

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