4 desafios para 4 anos

A poucos meses das eleições autárquicas, é importante que quem se candidata assuma com clareza os principais desafios de futuro. Mesmo com os limites do poder municipal, identificar problemas e apresentar soluções concretas pode mobilizar vontades e influenciar decisões. Deixo quatro desafios para Arouca que precisam ter resposta nas candidaturas:

Desenvolvimento e Riqueza: Arouca é, hoje, um dos concelhos mais pobres da área metropolitana do Porto (AMP), a nossa região de referência de facto. De acordo com os dados mais recentes do portal do INE [2022], na AMP, apenas Paredes apresenta um rendimento por habitante inferior (-1,6%), sendo que um arouquense tem um rendimento médio anual de 8341 euros, 25% mais baixo que a média nacional. A perspetiva não melhora entre a população ativa. O salário médio (em 12 meses) dos trabalhadores privados é de 1059 euros, o 2º mais baixo da AMP, 20% abaixo da média nacional. Arouca é ainda o concelho da AMP com menor proporção de trabalhadores com o ensino superior na sua força laboral – apenas 13,4% (cerca de metade da média nacional). Isto mostra que a economia local tem pouco valor acrescentado e depende pouco da tecnologia e do conhecimento, o que se traduz em salários baixos e poucas oportunidades para quem tem formação superior. É urgente mudar o perfil económico, atualmente baseado na hotelaria e turismo, para uma economia com setores de atividade com melhores salários, como as tecnologias de informação e software (com o requisito de ter boas comunicações), indústrias criativas ou da energia.

Natureza (e floresta): A natureza é um ponto distintivo de Arouca. Ainda que se deva, hoje, avaliar o potencial de crescimento e/ou massificação do turismo de natureza, deve reconhecer-se que um dos maiores méritos dos últimos executivos foi explorar este potencial. Uma aposta ganha que traz responsabilidade acrescida no que se refere à sustentabilidade, biodiversidade e ecossistemas. Arouca tem um território agrícola e florestal (de pequena parcela) e tirar partido desse território não pode passar apenas pelo turismo ou extração de madeira. Os incêndios dos últimos anos já nos mostraram essa vulnerabilidade e precisamos fazer algo, ganhando escala e apostando no conhecimento. Valorizar a natureza e a floresta de forma sustentável exige apostar, p.ex., em energias renováveis, serviços de ecossistema e mercados de carbono.

Património e cultura: Outra marca distintiva de Arouca é o seu património e cultura. Preservar o nosso património e cultura é um desafio social neste tempo de streaming, comunicação digital e globalização cultural. Arouca sofre de uma diminuição de população (-0,12% em 2023), única na AMP, algo amortecida pelo crescimento migratório (+0.3% em 2023, o mais baixo da AMP). Preservar cultura com uma população envelhecida é um desafio acrescido que precisa resposta e incentivo (ou que, no mínimo, não pode castrar a iniciativa da população). Numa economia baseada no turismo, que precisa ser autêntica, também o património material e imaterial merece atenção. Garantir que a gastronomia, os produtos locais e as tradições não são desvirtuadas (pelo lucro potencial) é uma responsabilidade do município – e, diga-se, há já exemplos menos bons.

Integridade territorial: Dentro do concelho de Arouca assistimos a uma cada vez maior concentração da população na sede do concelho. Não é um fenómeno único, mas deve merecer reflexão. Um território coeso é também um território mais diverso e com mais oportunidades – o que não implica ter tudo em todo o lado, mas realizar o potencial de cada lugar e de cada aldeia. Aqui, o executivo tem uma responsabilidade acrescida devendo garantir as condições razoáveis de acessibilidades, serviços e comunicações em todo o território. Deve pensar-se uma rede descentralizada de serviços de apoio, de centros de inovação ou de atividade associativa e não optar por estratégias que parecem concentrar todos os esforços de desenvolvimento num raio de poucos quilómetros, deixando alguns no esquecimento.

Sei que, muito provavelmente, a discussão da campanha girará de parte a parte entre lugares comuns (e ocos): o vejam a obra feita, vejam os desmandos, vejam a proximidade às pessoas, vejam a poder de influência do governo central, entre outros. Mesmo que o ruído habitual da campanha abafe os temas essenciais, não devemos desistir de os colocar na agenda. Arouca – e os arouquenses – merecem esse esforço.

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