Novo governo, reivindicação antiga

Com a tomada de posse do novo governo, renova-se também a esperança – ou pelo menos a expectativa – de que finalmente se concretize uma promessa demasiado antiga: a construção da 3.ª fase da Variante entre Arouca e Feira.

Esta obra, tantas vezes anunciada e tantas outras adiada, é mais do que uma simples infraestrutura rodoviária. É uma necessidade vital para o desenvolvimento sustentável de Arouca, para a segurança rodoviária dos seus habitantes e para a competitividade do nosso tecido económico, sobretudo para as empresas que enfrentam diariamente estrangulamentos logísticos que não se justificam no século XXI.

Não se trata de um capricho local. A ligação de Arouca à A32 é um investimento com retorno garantido: melhora o acesso a serviços de saúde e educação, promove o turismo de natureza, facilita o escoamento de produtos e contribui para a fixação de população jovem. Por isso, não é de estranhar que esta seja uma das reivindicações mais consensuais entre os arouquenses.

É por isso que este novo governo – que se diz atento à coesão territorial e ao interior – tem agora a oportunidade de passar das palavras aos atos. Anunciar estudos técnicos ou revisões orçamentais já não chega. Arouca precisa de prazos, compromissos e obras no terreno.

Não pedimos tratamento de favor. Exigimos apenas aquilo que é justo: igualdade de oportunidades. E essa igualdade começa com acessibilidades dignas.

Arouca tem dado provas inequívocas da sua resiliência e capacidade de superação. Num território marcado por décadas de esquecimento nas políticas nacionais, conseguimos criar valor, gerar dinâmica e afirmar a nossa identidade. O turismo, alicerçado no Arouca Geopark e com projetos como os Passadiços do Paiva ou a Ponte 516, tornou-se uma das nossas principais marcas, colocando Arouca no mapa nacional e internacional. O setor empresarial, tem enfrentado desafios logísticos brutais, e ainda assim resiste, investe e cresce. Até no desporto conseguimos ir mais longe do que aquilo que seria “suposto” para um território com estas limitações. O Futebol Clube de Arouca, com uma trajetória impressionante até à I Liga do futebol português, transporta o nome da nossa terra aos quatro cantos do país. Mas também aí as fragilidades da nossa ligação viária se fazem sentir. Equipas adversárias, equipas técnicas, adeptos, comunicação social – todos sentem as dificuldades em chegar e sair de Arouca. O clube, que é um dos principais embaixadores do nosso concelho, vive limitado por um acesso que não está à altura da competição onde se insere. O que poderia – e deveria – ser um fator de promoção permanente da nossa terra é frequentemente ofuscado por constrangimentos logísticos.

Tudo isto, importa dizê-lo, foi alcançado apesar – e não por causa – das acessibilidades. A atual ligação rodoviária entre Arouca e Feira, além de insegura, é um entrave ao progresso. Cada camião que enfrenta curvas apertadas e trajetos sinuosos é um lembrete diário da ausência do Estado central.

Cada minuto perdido na estrada é tempo retirado à produtividade, à competitividade, à qualidade de vida. E, no entanto, Arouca não parou. Não cruzou os braços. Adaptou-se, reinventou-se, persistiu. Mas há um limite para a resiliência.

Não se pode exigir eternamente que uma comunidade faça mais com menos. A narrativa do “interior empreendedor” não pode servir para encobrir a inércia do poder central. O que se tem pedido – e reiterado – é básico: uma ligação rodoviária condigna, que permita a Arouca competir em pé de igualdade com territórios similares. Não estamos a pedir uma autoestrada de luxo. Estamos a exigir justiça territorial. E essa justiça constrói-se com decisões políticas corajosas, não com promessas em ano de eleições.

Que este novo ciclo político não ignore o que há muito está por fazer. A 3.ª fase da Variante não pode continuar a ser uma promessa adiada. Porque cada dia de atraso é um dia a menos no futuro de Arouca. Sérgio Azevedo

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