«Os jovens aqui presentes são os imaginadores do futuro», frisou Rosalia Vargas, presidente da Ciência Viva – Agência Nacional para a Cultura Científica e Tecnológica, dirigindo-se aos alunos dos agrupamentos de escolas de Arouca e de Escariz na intervenção que encerrou as VIII Jornadas de Ciência de Arouca, que decorreram na Loja Interativa de Turismo de 16 a 17 de Maio. Um encontro que foi uma produção conjunta dos dois agrupamentos escolares, da associação arouquense Círculo Cultura e Democracia e do Município de Arouca, com a colaboração do Centro de Formação Professores AVCOA.

«ADMIRÁVEL MUNDO NOVO»
“Engenho, Arte e Literacia no Admirável Mundo Novo” foi o tema aglutinador da oitava edição do evento. Há 30 anos a puxar pela dinamização do conhecimento científico junto dos jovens e das comunidades, Rosalia Vargas saiu agradada com os projectos que encontrou nas escolas do município de Arouca e proporcionou ao auditório uma descontraída, mas desafiante troca de ideias com o seu amigo Manuel Sobrinho Simões, professor emérito da Universidade do Porto e um dos obreiros das Jornadas de Arouca. Em análise esteve o estatuto e o papel da ciência e dos cientistas na construção do presente e do futuro. Retomando a notável obra (1932) de Aldous Huxley – “Admirável Mundo Novo” – a presidente da Ciência Viva sublinhou «o sentido crítico e futurista que nos deve inspirar» na exploração de novas possibilidades científicas, onde a cidadania e a ética também se cruzam.

CIÊNCIA VIVA
O trabalho de promoção da curiosidade e da cultura científica, no sentido de «formar cidadãos empenhados, informados e responsáveis», está a ser feito há muito tempo, em Portugal e em alguns dos países lusófonos, através de redes Ciência Viva nas suas múltiplas valências – Centros Ciência Viva (20), Escolas Ciência Viva (20), Quintas Ciência Viva (24) e Clubes Ciência Viva (897), mostrou Rosalia Vargas, ajudando-nos ainda a olhar para a Ciência como «força de transformação e resistência».

ALUNOS DE AROUCA E DE ESCARIZ MOSTRAM OS SEUS PROJECTOS
Entre especialistas de topo que ajudaram a fazer as Jornadas de Ciência de Arouca 2025, estiveram os alunos. Afinal, «eles são os destinatários fundamentais que dão sentido à existência deste evento», destacou o catedrático arouquense da Universidade do Porto, Jorge Gonçalves. Como cativar o público para a ciência? «Contando boas histórias», respondeu um dia Manuel Sobrinho Simões. Aos estudantes foi dada a oportunidade de contarem as suas. Em dois painéis trabalhados com rigor, empenho e envolvimento na cultura científica. Primeiro pela apresentação de um projecto eTwinning/Erasmus, “Green Steps”, a cargo das turmas A e B do 11º ano da Escola Básica e Secundária de Escariz, um trabalho «centrado na sustentabilidade ambiental», desenvolvido em parceria com uma escola de Liberec, na Chéquia. Subiram ainda ao palco alunos da turma 11ºA da Escola Secundária de Arouca para serem os porta-vozes dos empreendimentos de Ciência Viva dinamizados na escola. O Clube Ciência Viva, oficializado em 2022, envolve alunos e professores que já partilhavam a Oficina da Ciência. Avançou-se da ideia para a acção materializada num projecto de «educação ambiental e de valorização da biodiversidade», que leva já três anos a contribuir para «a formação cívica e científica dos jovens.»

«NESTE TERRITÓRIO A IMPORTÂNCIA DA CULTURA CIENTÍFICA É UMA IDEIA QUE SE QUER VIVA»
A abertura das Jornadas deu-se com as intervenções dos representantes da organização, Marta Duarte (CCD), Cláudia Oliveira (CMA), Amélia Rodrigues (AEA) e Vitor Venceslau (AEE), e ainda de José Rosa (director do CFAE AVCOA). «Neste território e para esta comunidade, a importância da cultura científica é uma ideia que se quer viva. Ser inteiro no mundo é compreender, sentir e inventar o mundo, porque o futuro não é um destino sem escolhas», salientou a organização, que contou ainda com as colaborações no terreno das docentes Elisa Pinho (AEA) e Glória Tavares e Carminda Santos (AEA) para a concepção do programa.

«INVENTAR O MUNDO, PORQUE O FUTURO NÃO É UM DESTINO SEM ESCOLHAS»
Dado o mote, seguiram-se dois painéis de especialistas nas matérias, trunfos de análise e reflexão que percorreram assuntos desafiadores. Num, esteve em destaque o uso da tecnologia digital e as possíveis virtudes e falências das interacções Homem-Computador, tema a cargo de Mónica Aresta, investigadora na Universidade de Aveiro (DigiMedia), com moderação de Adriano Lhamas (CCD). O outro, no regresso a Camões, o génio português que vislumbrou glória e decadência perante o mundo novo de então – «Engenho e Arte na Literatura: visitas ao futuro na obra de Camões», intervenções superiormente dirigidas por Luís de Sá Fardilha e Zulmira Santos, da Faculdade de Letras da Universidade do Porto, painel que foi moderado pela ex-vice-reitora da Universidade do Porto, a arouquense Maria de Lurdes Fernandes.

SEIS WORSHOPS VALORIZARAM A PRÁTICA
Num formato que pretendeu incrementar a dimensão prática do conhecimento e a criatividade bem como a interação entre alunos dos dois agrupamentos escolares, seis workshops estiveram ao alcance e fizeram as aprendizagens dos jovens estudantes sob a dinamização de docentes dos dois agrupamentos e convidados externos: “Arte em Acção” (Júlio Caseiro e Letícia Sacramento); “Robótica em Acção” (António Mota Soares, Renato Oliveira e Sérgio Postilhão); “Escrita Criativa” (Maria João Machado, Olga Soares e Vera Pinho); “Pixilação” (Paula Aniceto); “Floresta com Arte, Sustentabilidade em Acção” (Elisa Pinho) e “Ilustração” (Luisa Portugal, ilustradora).

ALUNOS APRESENTAM RESULTADOS
O derradeiro dia das jornadas deu novamente lugar aos estudantes, desta vez para um balanço das experiências e das aprendizagens realizadas, momentos de análise e troca de ideias conduzidas pelo docente universitário Jorge Gonçalves, habitual colaborador do CCD e impulsionador das Jornadas de Arouca. No apoio logístico e cultural à iniciativa estiveram ainda alunos da Academia de Música de Arouca e dos cursos de Restaurante-Bar e Cozinha-Pastelaria da Secundária de Arouca. MMS/RV (texto e fotos)
