‘Balas e Bolinhos IV’ vai ser o cabeça-de-cartaz do Arouca Film Festival 2024

Estreou no dia 15 de Agosto a quarta sequela do filme “Balas e Bolinhos”, de autoria do realizador e actor, Luís Ismael. O sucesso de bilheteira desta comédia com sotaque portuense atingiu todas as salas de cinema do país.
A película vai ser cabeça de cartaz da vigésima segunda edição do Arouca Film Festival que arranca a 11 de Setembro. Para abrir o apetite do festival, RODA VIVA entrevistou Luís Ismael, que de imediato se prontificou para falar sobre o cinema português, o “Balas e Bolinhos” e o Arouca Film Festival. RV


Como surgiu a paixão pela sétima arte?

Sendo o terceiro filho e a uma distância de 10 anos dos meus dois irmãos, eu passava muito tempo sozinho e descobri o cinema uma companhia através do Cineteatro de Valongo, onde passavam muitos filmes, e depois eu fiz amizade com a pessoa que estava na bilheteira e ele deixava-me muitas vezes ir ver os filmes que estavam em cartaz. E foi aí que descobri uma paixão enorme pelo cinema e aos 13 anos meti na cabeça que queria ser realizador de cinema.


Gosta mais de realizar ou de interpretar?

Gosto muito mais de realizar e escrever do que interpretar. Não me considero um ator. Faço-o porque também é uma vertente nova que gosto de explorar, mas, claramente, sinto-me muito mais confortável na realização.


Qual a fórmula de sucesso para a saga “Balas e Bolinhos”?

Eu creio que é sermos genuínos e verdadeiros. Fizemos o filme sem nunca ter como objectivo principal, a fama. Acho que o Balas, acima de tudo, tem um objetivo, que é divertir as pessoas, e as pessoas que gostam do Balas & Bolinhos gostam de se divertir e não se levam demasiado a sério, e isso é, na minha perspectiva, que faz com que o Balas tenha… Eu não diria fãs, mas militantes do filme, porque de facto é uma paixão, é um carinho que me manifestam quase todos os dias, que eu, muitas vezes, nem sei como é que eu hei de responder a essas solicitações.


Há uma nova geração de realizadores portugueses com filmes de sucesso. Pode-se falar de um boom do cinema português?

O que eu acho é que há uma nova fornada de cineastas que se preocupam cada vez mais em fazer cinema para as pessoas e não apenas para os críticos ou para ganhar prémios em festivais. Considero que tudo é essencial, tudo é importante para fazer cinema, mas nunca nos devemos esquecer do público, porque é aquilo que eu considero o factor mais importante neste ecossistema da produção cinematográfica.


Compensa ser actor ou realizador em Portugal?

Eu diria que compensa porque sentimos que estamos a interferir de uma forma positiva na vida das pessoas. Agora financeiramente, se alguém quer fazer carreira na área a pensar que vai ganhar muito dinheiro, provavelmente não é a melhor opção.


“Balas e bolinhos IV” que estreou no dia 15 de Agosto vai ser cabeça de cartaz da edição deste ano do “Arouca Film Festival”. Ficou satisfeito com essa distinção?

Tenho um carinho muito especial pelo Festival de Arouca porque praticamente assisti ao seu nascimento e tenho vindo também a testemunhar o seu crescimento e por tudo isso, receber o convite para abrir o Festival de Arouca é algo que me faz sentir lisonjeado e agradeço essa distinção.


Como vê a evolução do “Arouca Filme Festival” ao longo das últimas edições sendo este um evento internacional?

É incrível como um festival pequeno como o Festival de Arouca tem vindo a estabelecer-se pela sua teimosia, pelo seu vigor e pela sua resiliência no panorama dos festivais de cinema em Portugal. E, por isso, acho que merece todas as críticas positivas e merece todo o apoio que tem vindo a conquistar ano após ano. Naturalmente, o trabalho deste festival é reconhecido fora de Portugal e todos os anos tem surpreendido pela sua programação, pela qualidade do seu júri e ano após ano tem, vindo a demonstrar uma capacidade de continuar a surpreender.


Tem tido o reconhecimento merecido?

Deveria ter mais reconhecimento. Porque não é nada fácil organizar um evento como o Festival de Cinema de Arouca. Mas não tenho dúvidas que ano após ano, esse reconhecimento vai surgir. Esse reconhecimento é uma justiça que será feita ao festival e a quem o organiza. Não tenho dúvida alguma.


João Rita, a alma-mater do certame, tem lutado contra ventos e marés para manter o festival vivo. 

O João Rita tem aquilo que eu chamo de teimosia deliciosa, porque é um homem que ama o cinema, é um aglutinador, é um homem que quer ver o seu festival a ser bem tratado, o seu festival a ter os apoios que merece, e naturalmente é um homem que luta dia após dia para que tudo isto se concretize. E é deste tipo de pessoas que nós precisamos, pessoas que não desistem, pessoas que acreditam num projeto e que o fazem sem segundas intenções. E isso vê-se ao longo destes anos em que nunca desistiu e luta diariamente para que o Festival de Cinema de Arouca tenha o seu lugar no panorama dos festivais de cinema em Portugal.


Acha que o cinema português tem o apoio devido das entidades oficiais?

O problema é que o apoio vai sempre para os mesmos. E vai sempre também para uma determinada zona geográfica em Portugal. E isso faz com que o cinema português, de facto, não tenha a diversidade que merece e não tenha as mesmas oportunidades de norte a sul de Portugal. E eu acho que o apoio que existe deve, naturalmente, ser distribuído de uma forma igualitária por todo o país e não apenas numa região do mesmo. Existem produtoras em Portugal que recebem 5, 6, 7, 8 apoios por ano para fazerem filmes. E normalmente essas empresas estão todas localizadas numa região geográfica de Portugal. E isto não é correto. Isto não pode acontecer. Temos que distribuir todos os apoios que existem por todos os cineastas que existem em Portugal e não centralizar quase todos os apoios nas mesmas produtoras, nas mesmas pessoas, ano após ano. É um verdadeiro escândalo.


O que é necessário para aproximar os portugueses do nosso cinema?

É necessário ter coragem de assumir que queremos fazer cinema para as pessoas e que deveriam haver também apoios para o cinema comercial em Portugal, como existem para o cinema de autor. Nós não podemos apenas e só produzir filmes para receberem estatuetas em festivais fora de Portugal ou então para agradar os críticos de cinema. Temos que fazer todo o tipo de cinema. E serão os portugueses a escolher o cinema que querem ver. E não, como existe agora, em que, basicamente, é o júri do ICA que através de uma política de gosto, define quem é que filma e aquilo que os portugueses vão ver na sala de cinema.

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