No ano em que se comemora o 50º aniversário do 25 de Abril, a Biblioteca D. Domingos de Pinho Brandão, no Mosteiro de Arouca, acolheu a apresentação concelhia do livro “50 Abris”. O evento literário foi promovido pelo município de Arouca e apadrinhado pela presidente da Câmara Municipal, Margarida Belém. A obra, lançada em Abril, na cidade do Porto, e divulgada agora na sede do concelho, é o produto final de um projecto que quis «dar voz a jovens e menos jovens, pessoas que nunca são ouvidas sobre as questões de Abril», explicou Sara Brandão, uma das coordenadoras do livro e representante da Truz Truz, editora cujos mentores têm raízes familiares na freguesia de Tropeço, no município de Arouca. Criada no Porto em 2020, tem privilegiado a divulgação de projectos de literatura infanto-juvenil.
ILUSTRAÇÃO DE JOVEM AROUQUENSE
Um livro em grande formato vertical e ilustrado que é também um singular exemplo de boas práticas de inclusão: «50 grupos de 28 instituições e associações sociais do grande Porto conversaram sobre liberdade com 50 autores e autoras residentes em Portugal e dessas conversas nasceram textos que, por sua vez, foram ilustrados por 50 artistas», explicou a editora.
Marta Pais de Oliveira – jovem escritora, já premiada por alguns trabalhos literários e uma das autoras desta edição que celebra Abril – contextualizou a realização de um livro «para todas as idades, composto por 50 histórias sobre liberdade escritas em diferentes géneros literários», um livro que teve também o contributo de Luísa Portugal, jovem ilustradora arouquense, natural da freguesia de Chave, que interveio para descrever a forma como integrou a criatividade no novo projecto editorial.
«SÃO HISTÓRIAS QUE NOS INTERPELAM EM MÚLTIPLOS SENTIDOS»
Foi ainda com intervenção arouquense que decorreu a apresentação de uma «obra emblemática». Investigadora e professora na Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade do Porto, Preciosa Fernandes expressou com emoção e profundidade as virtudes e o alcance pedagógico de “50 Abris”.
«É uma obra que celebra 50 anos de democracia em Portugal e, portanto, uma obra histórica. Uma obra que nos conta histórias e faz histórias de e sobre o 25 de Abril. São histórias e narrativas com poucas palavras, não são muito longas, mas com mensagens profundas repletas de significado que se completam e harmonizam com as belíssimas e significativas ilustrações. São histórias que nos interpelam nos sentidos de liberdade, de liberdades, de ter liberdade, de ser livre, tornar-se livre, sobre o sentido de democracia e o sentido de educação, de formas de sentir e de não sentir o amor, o amar, a falta de amor, independência de mulheres e de homens, igualdade, desigualdade, inclusão, exclusão, esperança utopia, sonhos, ilusões, desilusões, presente e futuro, sobre encontros e desencontros, diferença e diferenças, sobre sentimentos, medos e angústias, felicidade, tristeza, alegria, dor, sofrimento, sobre cultura, arte, riqueza, pobreza, sobre gente miúda e graúda, homens, mulheres, eu, nós e o outro, sobre conhecimento e desconhecimento, poder e poderes, sobre participação e intervenção, sobre social, político e política», começou por detalhar a docente natural da freguesia de Rossas.
«UMA OBRA ESSENCIAL AO SERVIÇO DA EDUCAÇÃO»
«Em síntese, uma obra que nos desperta para uma infinidade de sentidos e de solicitações. Uma obra comemorativa e de celebração da democracia e da liberdade nas suas múltiplas formas de expressão, uma obra desenvolvida em coautoria e que transmite uma visão de educação como responsabilidade social. Quero, por isso, deixar uma palavra de enorme reconhecimento às 50 instituições e aos autores representados nesta obra e ao elevado papel que têm tido ao nível da intervenção social e educacional, perseguindo promessas de Abril e o desejo de se alcançar uma educação democrática, uma escola onde todos tenham sucesso, uma escola de inclusão de todos, incluindo os mais vulneráveis», prosseguiu.
«Esta obra constituiu, por isso, um contributo para uma reflexão sobre democracia, liberdade e educação, sobre o muito que já foi feito e sobre o quanto precisamos ainda de fazer. Trata-se de uma obra de grande relevância política, social e educacional, razão pela qual vos convido a ler, a divulgarem e a utilizarem como dispositivo educativo, contribuindo para manter viva a importância e a memória do 25 de Abril», destacou ainda Preciosa Fernandes.
UM LIVRO QUE VAI CHEGAR ÀS BIBLIOTECAS DO MUNICÍPIO
«É uma obra notável e poderosa», frisou a presidente da Câmara Municipal de Arouca, que anunciou ir projectar a sua divulgação junto das escolas e a aquisição de exemplares para todas as bibliotecas do município. Uma apresentação que foi também um largo momento de partilha de valores e de participação do público. Uma apresentação inteiramente feita no feminino, um sinal também dos novos tempos, uma nobre expressão das mudanças de mentalidade trazidas pela democracia instaurada pela Revolução de 1974 a que o livro faz justa homenagem. Manuel Matos (texto e fotos)/RV