A Igreja de Moldes recebeu a oitava edição do Encontro de Vozes. O evento dedicado ao canto popular polifónico, organizado pelo Conjunto Etnográfico de Moldes, decorreu a 23 de Novembro e contou com a participação de seis grupos, uns de carácter informal e outros organizados em contexto associativo, vindos de diferentes aldeias do concelho de Arouca e dos municípios de Vale de Cambra e de Ponte da Barca (Alto Minho).

As cantadeiras do Conjunto Etnográfico de Moldes abriram o espectáculo, entoando a duas e três vozes, corais polifónicos de cariz sagrado e profano, de letras simples e com uma solenidade que faz tornar sublime o que parece vulgar e aparente.
Seguiram-se as crianças do polo escolar de Moldes, acompanhadas pelas cantadeiras do Conjunto Etnográfico de Moldes, cuja participação decorreu no âmbito do projeto educativo “Botar Cantas na Escola” desenvolvido pelo Museu Municipal de Arouca, um projecto de valorização e salvaguarda do canto polifónico de matriz rural através da transmissão oral às gerações mais novas. Com a ida à escola, as cantadeiras transmitem o seu saber – “botar cantas” – e os professores trabalham conteúdos curriculares a partir das letras das cantas e das histórias de vida das cantadeiras.

Seguiu-se o Grupo de Cantares Polifónicos de Regoufe, uma comunidade marcada pela exploração de volfrâmio. O evento contou também com a participação do Grupo de Cantares do Merujal, com vozes marcadas pelos ares da Serra da Freita. Também abraçado pela Serra da Freita, chegou o Grupo de Folclore Terras de Arões, de Vale de Cambra, que surpreendeu pela jovialidade das suas vozes femininas.
As Cantadeiras de S. Martinho de Crasto, de Ponte da Barca, encerraram o Encontro de Vozes, trazendo a Moldes, a três e mais vozes, as cantas tradicionais do Alto Minho, cujas letras falam dos trabalhos agrícolas, das romarias, da devoção e do carácter forte e determinado das mulheres do campo.
No final, todas as cantadeiras e as crianças do polo escolar de Moldes botaram, a uma só voz, uma canta, evidenciando o poder da voz feminina e do canto a vozes.

“Pretendemos com o Encontro de Vozes celebrar a riqueza do Cancioneiro de Arouca e exaltar a polifonia tradicional e o canto a vozes, já inscrito no inventário nacional do Património Cultural Imaterial”, afirma o presidente da Direcção do Conjunto Etnográfico de Moldes, Isidro Castro. “Este é um evento que se distingue dos demais por, além de contar com grupos organizados, que se reúnem e ensaiam com regularidade para fazer apresentações, dar destaque aos grupos informais das nossas aldeias, que há décadas tinham no cantar uma das vivências do seu quotidiano. Actualmente, as cantas são um pretexto para estas mulheres se voltarem a juntar, o que demonstra que este património tem também uma importante função social, a de quebrar o isolamento e a solidão”, acrescenta o dirigente.
O 8.º Encontro de Vozes foi organizado pelo Conjunto Etnográfico de Moldes de Danças e Corais Arouquenses e contou com o apoio do Município de Arouca, da Junta de Freguesia de Moldes e da Paróquia de Santo Estêvão. (fotos: Pedro Noites)
