Processos da Inquisição do concelho de Arouca

Entre 1536 e 1821 funcionou em Portugal o Tribunal do Santo Ofício, vulgo Inquisição, ocupando-se do combate àquilo que ao tempo era considerado heresia. Entre os processos da Inquisição de Coimbra (4) e os da Inquisição de Lisboa (3), encontram-se alguns em que os acusados eram naturais ou residentes no actual concelho de Arouca. É quanto consta no espaço de quase três séculos.

De há alguns anos a esta parte estes processos ficaram disponíveis para consulta, em formato digital, no site do Arquivo Nacional da Torre do Tombo (ANTT), conforme as cotas que aqui se indicam. Para além disso foram disponibilizados online, no site “Genealogia FB”[1], índices úteis que facilitam as pesquisas a este respeito. Trata-se de bons exemplos locais da actividade da Inquisição, para referência em contexto escolar, e igualmente com interesse genealógico.

Segue-se a lista dos processos em que os acusados eram naturais ou residentes no actual concelho de Arouca, com a indicação das cotas (ou código de referência) do ANTT, data, nome do acusado, estatuto social, idade, crime de que foi acusado, profissão, naturalidade, residência, nomes dos pais, estado civil, nome do cônjuge e o resultado do processo.


INQUISIÇÃO DE COIMBRA

1 – Processo de João Gonçalves, também conhecido por João de Azevedo (6.3.1580), cristão-velho, criado / hortelão, acusado de bigamia e falsificação de documento. Natural de Belice, São Miguel do Mato – Fermedo e residente em Coimbra. Sentenciado em 16.8.1626, com Auto de Fé de 16.8.1626. Primeira culpa: 12.7.1623; o Réu faleceu em Lisboa em ?.?.1622; teria 30 anos se fosse vivo na data da primeira denúncia. Código de referência – PT/TT/TSO-IC/025/04540.

2 – Processo de Agostinha Rodrigues (13.1.1644), cristã-velha de 40 anos, que vivia de seu trabalho, acusada de fingimento de visões ou revelações, fingir-se “medium”. Natural de São Miguel de Urrô e residente em São Vicente de Irivo. Filha de Manuel Rodrigues, cristão-velho, carpinteiro, e Brites Gonçalves, cristã-velha, cadada com Manuel Fernandes, cristão-velho, que vivia de seu trabalho. Presa em 29.9.1646 e sentrenciada com auto-de-fé de 24.2.1647, obrigada a degredo para Castro Marim, por três anos, penitências espirituais, pagamento de custas. Contém uma certidão de Francisco Teixeira em que são mencionados os nomes de vários réus que se confessaram e comungaram no Colégio da Companhia de Jesus. Código de referência – PT/TT/TSO-IC/025/06755.

3 – Processo de Maria Domingues (22.12.1701), cristã-velha de ca. 40 anos, curandeira, acusada de superstição e feitiçaria. Natural de Mançores, São João do Monte (será em Tondela?), e residente em Carvalhal. Filha de Domingos João, lavrador, e Maria João, casada com Domingos Duarte, trabalhador. Presa em 27.8.1700. Outros Dados: M.C.; o processo não tem a data da publicação da sentença; foram passados à Ré termos de soltura e segredo em 22.12.1701 e de ida e penitências em 27.1.1702. Código de referência – PT/TT/TSO-IC/025/08819.

4 – Processo de Francisca Maria (9.12.1790), de 55 anos, acusada de superstição. Natural e residente em Abitueira, freguesia de Santa Cristina de Mansores. Filha de Domingos Francisco e Maria Francisca, solteira. Apresentada em 9.12.1790 e sentenciada com auto-de-fé privado de 14.12.1790. A Ré foi repreendida, e advertida a não cometer as mesmas culpas, instrução na fé, pagamento de custas. Código de referência – PT/TT/TSO-IC/025/00712.


INQUISIÇÃO DE LISBOA

1 – Processo de João Fernandes (20.8.1560), cristão-velho de 90 anos, pedreiro, acusado de bigamia. Natural de Grijó, Arouca (Castro Daire?). Filho de Martim Enes, lavrador, e Inês Anes, casado com Marquesa Gonçalves, cristã-velha. Preso em 20.8.1560 e sentenciado a auto-da-fé privado em 31.8.1560, sendo solto e devendo apresentar-se à Mesa para dar conhecimento dos dois casamentos que confessou no Santo Ofício, para decidir com qual das mulheres faria vida marital. O réu casou segunda vez com Leonor Rodrigues. Código de referência – PT/TT/TSO-IL/028/01614.

2 – Processo de Francisco António, também conhecido por Francisco Luís, cristão-velho de 35 anos, alfaiate, acusado de bigamia. Natural de Fermedo, lugar de Cabeçais, concelho de Arouca, e residente em Lisboa. Filho de António Luís, cristão-velho, alfaiate, e Simoa Dias, cristã-velha, casado com Margarida Pires, cristã-velha, primeira mulher. Apresentado em 14.5.1601 Código de referência – PT/TT/TSO-IL/028/07554.

3 – Processo de André Soares (21.4.1626), cristão-velho de 37 anos, lavrador, acusado de heresia e basfémia. Natural da freguesia de Santa Marinha do Tropeço, Arouca, residente em Arroleia, termo da Golegã. Filho de André Gonçalves e Maria Gonçalves, casado com Joana Jerónima, cristã-velha. Preso em 4.5.1626, sentenciado a auto-da-fé privado de 20.5.1627, obrigado a abjuração de leve, penitências espirituais, pagamento de custas. Código de referência – PT/TT/TSO-IL/028/00760.


[1] Genealogia FB – https://genealogiafb.blogspot.com/.

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