O Turismo (pós-eleições)

Dois pontos prévios, de contexto: 1. Na altura em que escrevo, final de setembro, a campanha autárquica está a arrancar; 2. Aquando da edição do jornal, este mês, as eleições já decorreram.

Não antecipo ou ajusto a opinião em função do seu potencial impacto. Por duas razões: primeira não tenho ligações políticas que me condicionem; segunda, mais prosaica (e realista), porque a opinião não é forçosamente relevante para ter qualquer impacto. Contudo, em período de campanha eleitoral, racionalizo mais o que escrevo e tento garantir distanciamento face a bandeiras eleitorais (para que não fique indiretamente colado a quem quer que seja).

Dado o contexto, assinalado acima, tenho este mês uma janela ótima para abordar um tema (e enunciar um outro) que deve ser olhado nos próximos quatro anos, em particular por quem tenha ganho as eleições de dia 12 de outubro. Falo do turismo.

Considero que esta atividade económica é uma boa estratégia de transição, como mostram os resultados locais ou nacionais (bandeiras estratégias de PS e PSD). Contudo, creio que não deve ser um setor central na economia. Temos que: i. reconhecer os riscos da sua natureza volátil e sazonal; ii. reduzir a sua dependência excessiva; iii. encarar que uma economia de serviços está condenada a andar atrás, servindo quem tem mais recursos.

O turismo tem assumido um papel central na economia de Arouca, em particular após o merecido sucesso dos Passadiços do Paiva. Como escrevia em novembro de 2022, a propósito dos 10 anos da inauguração, a aposta nos Passadiços foi acertada, fruto da sua originalidade e arrojo. Esse mérito político precisa ser reconhecido.

Há quatro anos, a propósito das autárquicas de 2021, apelava à discussão estratégia do município, sinalizando que é necessária uma diversificação económica que garanta riqueza e resiliência do território, face a crises como a pandémica. Acresce que é necessário garantir equilíbrio territorial (que estratégia turística pode não assegurar) dado estar fundada em elementos âncora locais — como a serra da Freita, os passadiços ou os geossítios.

Assim, é essencial estimar o impacto real do turismo, o seu valor acrescentado, os agentes ganhadores e as suas dependências, promovendo a distribuição justa dos seus benefícios, balanceando investimento público e evitando assimetrias sociais. É necessário também que o turismo seja instrumento na valorização cultural e comunitária. Eventos como a Recriação Histórica provam que o envolvimento social pode transformar o turismo num veículo de educação social e preservação da memória coletiva (já o escrevia no artigo de julho 2022). Mas, em simultâneo, num equilíbrio nada fácil, precisamos garantir que esta participação comunitária não é serviçal ou se transforma numa encenação de munícipes para forasteiros.

Não podemos ignorar os efeitos indiretos do crescimento turístico. O custo da habitação e a pressão sobre as infraestruturas são realidades que exigem resposta e autorregulação. A este propósito nada melhor do que ler o artigo “Vamos discutir as externalidades do turismo nas autárquicas?”, publicado por Pedro Norton na edição do Público de 9 de setembro de 2025.

Devemos celebrar o nosso turismo e a riqueza natural e cultural do concelho que o permitem. Devemos garantir que é instrumento para a justiça social, a criação de riqueza e preservação ambiental. Devemos continuar a criar propostas turísticas originais respeitando património material e imaterial. Devemos envolver a comunidade e ter visão de longo prazo. Ou seja, devemos garantir que o turismo é sustentável e inclusivo.

PS.: No próximo texto abordarei o associativismo: o seu propósito e financiamento.

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