“Matar os Dinossauros” é o mais recente livro da jovem escritora arouquense Cátia Cardoso, natural da freguesia de Canelas. Promovida pela Câmara Municipal de Arouca, representada no evento pela vice-presidente Cláudia Oliveira, a apresentação da obra decorreu no dia 23 de Novembro, na Biblioteca D. Domingos de Pinho Brandão, no Mosteiro de Arouca. “Matar os Dinossauros” é o quarto livro redigido pela autora de 27 anos, o terceiro em poesia, depois de “Poesia Silenciosa” (2014) e “Antes que o Amanhã se Vista de Fogo” (2021) e do seu primeiro romance “Linhas Delicadas” (2016).
Literatura e Psiquiatria
Um livro poético nascido da crescente profundidade analítica da mente humana protagonizada pela autora, que a sua conterrânea Fernanda Mendes – psiquiatra dotada de vasto currículo e experiência profissional, nascida em Canelas em 1947 e hoje residente nos Açores – apresentou de forma superior, deslindando para o muito público presente a complexa simbiose das dimensões literária e psicológica. “Ou matas os dinossauros ou os dinossauros matar-te-ão” é um alerta que encabeça a capa da obra editada pela Cordel d’ Prata e que, logo aí, desperta o leitor para averiguar quem ou quais são os tais dinossauros, obviamente não os que fizeram a biologia do território, mas os que habitam a psique humana e mexem com a fruição e a complexidade da vida. «É nesse território, na psique, que nascem, crescem e morrem os denominados de dinossauros no livro.»
«Metáforas e imagens dos nossos fantasmas e sofrimentos»
«Dinossauros, no contexto do livro, são metáforas, mas também imagens dos nossos fantasmas, isto é, das nossas inquietações, ansiedades, incertezas, insatisfações, desassossegos, nervosismos e medos, entre tantas outras reações emocionais e sentimentos negativos que possamos sentir. São metáforas e imagens do sofrimento, são feridas ou cicatrizes resultantes de escolhas erradas ou de desilusões, são memórias mais ou menos intensas ou dolorosas, mais ou menos traumáticas que marcam ou ensombram a nossa vida, incluindo a doença depressiva.» «Quem não possui os seus dinossauros?», perguntou a apresentadora.
«É através da voz da autora que por eles viajaremos, independentemente das questões formais ou estilísticas que lhe estejam associadas.» «A autora dá-nos conta de que não podemos ausentar-nos das nossas realidades, mesmo quando tudo parece ruir». «Uma ânsia de matar os dinossauros, uma catarse que é uma experiência interna de desconstrução, de libertação e de consequente transformação.» «Exige rasgo, vontade, força de viver plenamente e de voar», frisou Fernanda Mendes.
«Busco sobretudo um produto artístico»
Dada voz à autora, Cátia Cardoso expôs ainda as razões e as competências literárias trabalhadas por trás do livro, enquadrando a nova publicação no seu percurso de pessoa e escritora, ela que redigiu uma primeira colectânea de poemas aos 17 anos, licenciou-se depois em Comunicação Social, realizou um mestrado em Cinema e tem hoje em marcha um doutoramento em Sociologia. «Para mim a poesia faz-se de sentido, ela surge de forma muito natural, eu não encontro um motivo específico para a realizar. Outras pessoas têm outras formas de busca de sentidos existenciais», referiu a escritora arouquense.
«Este livro não é sobre o que são os meus dinossauros em particular, refere-se, como vincou a Fernanda, a inúmeros acontecimentos e experiências que tocam as pessoas. Ainda que eu tenha os meus próprios dinossauros, eu busco sobretudo um produto artístico que vai muito para além dos meus sentimentos. Gosto sobretudo da poesia que incomoda, escrevo não para impor uma mensagem, reservo antes para o leitor a plenitude do seu direito à liberdade de interpretação», confessou a autora de “Matar os Dinossauros”. Manuel Matos (texto e fotos)/RV