Canelas atacada por fogo descomunal que gera perdas imensas

«Ele veio do Vau para cima e não tivemos ajuda», desabafa Adriano Duarte, habitante de Canelas que, com a ajuda dos dois filhos, tentou suster a força do fogo que acabaria por, num ápice, galgar os terrenos e atingir a sua quinta, destruindo aquilo que encontrou – sobretudo muitos bens materiais à base de equipamentos que sustentavam a sua actividade agrícola. Fomos encontrar Adriano Duarte lá “no fundo”, no chamado Ribeiro do Fontão, depois de termos virado à direita para seguir a placa indicativa do lugar de Estreitinha. Foi sempre a descer a longa encosta, até nos juntarmos ao senhor Adriano e à sua imensa tristeza diante do quadro desolador que o rodeava. «Junto ao cemitério chegaram a estar cerca de quinze autotanques e cerca de sessenta bombeiros, dirigi-me ao comandante [de Arouca] e disse-lhe que tinha aqui uma exploração, se havia possibilidade de ter algum acompanhamento pelos bombeiros.» Adriano Duarte lamenta que o seu apelo não tenha sido atendido em tempo útil e, posteriormente, tenha ficado só, com os dois filhos, a enfrentar as chamas quando elas chegaram ao lugar já perto da meia-noite.

Alma do quotidiano lavrada pelo fogo

«Tentamos safar aquilo que podemos, com alguma água que tínhamos, mas a violência das chamas era tal que não tivemos capacidade e tivemos de fugir. Corremos mesmo risco de vida. Estamos exaustos!», confessa o idoso de 76 anos. Reformado, viu a exploração agrícola, da qual tirava algum rendimento e que, nesta altura da vida, era mesmo a alma do seu quotidiano, ser lavrada pelo fogo. Adriano Duarte tem morada noutro lugar, em sítio mais acima da freguesia, mas essa nada sofreu. O desalento vai nesta altura para as avultadas perdas de máquinas e alfaias agrícolas nas quais muito tinha investido para melhorar a capacidade e a muita vontade de trabalho que ainda detém. «As arrecadações, um atrelado de trator que me custou quatro mil euros, uma carpinadeira nova, uma frese nova, um rachador de lenha novo, um abre-regos, um arado, um semeador, um cilindro, um ventilador da azeitona, uma motorizada, seiscentos metros de tubo…», enumera o senhor Adriano, entre mais alguns objectos da faina agrícola que passaram ao rol dos prejuízos.

«Faltou-nos ajuda»

Fora da lista de danos que o grande incêndio lhe trouxe, encontra contentamento no facto de as ovelhas que cria terem escapado, milagrosamente, à morte, mas o sentimento de pena estende-se ainda às oliveiras, aos castanheiros e a outras espécies agrícolas perecidas às mãos do calor que atacou a propriedade. «Em fogos anteriores, os bombeiros ajudaram sempre a preservar este lugar. Desta vez não. Na minha opinião foi por falta de vontade e de decisão. A ventania tornou o fogo de dimensões enormes e a decisão tinha que ser rápida», lamenta Adriano Duarte, que procura agora adaptar-se à nova realidade de cada dia. Em Canelas, mais um retrato de perdas materiais e sentimentais que exemplifica o muito que tem sofrido a população arouquense, recorrentemente atacada por gigantescos incêndios que vão dizimando património natural e familiar. Manuel Matos Sousa/RV (texto e fotos)

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