Banda Musical de Arouca: 200 anos de arte, honra e glória

Foi com um grande concerto na Igreja do Mosteiro de Arouca, a celebração da Missa e um jantar-convívio no Hotel São Pedro que a Banda Musical de Arouca – Associação Cultural e Artística encerrou, a 6 e 7 de Dezembro, as comemorações do seu bicentenário, o fecho festivo de um ano marcado por diversas iniciativas de periodicidade mensal que visaram assinalar os 200 anos da prestigiada instituição arouquense fundada em 1825 por Bernardino Joaquim Soares.

ENTIDADES ASSOCIARAM-SE ÀS CELEBRAÇÕES

Foi num ambiente de terno calor humano e artístico que a imensa família de músicos, dirigentes e colaboradores se reuniu na etapa final das celebrações, a que se associaram múltiplas entidades como Margarida Belém, presidente da Câmara Municipal de Arouca, Afonso Portugal, presidente da Assembleia Municipal, Vitor Arouca, presidente da União de Freguesias de Arouca e Burgo, a Academia de Música de Arouca, os Bombeiros Voluntários de Arouca, a Real Irmandade da Rainha Santa Mafalda, o Padre Misael Fermin, representantes das bandas de Alvarenga, Fermentelos e Vale, e outros do mundo empresarial, como a AECA e patrocinadores da instituição.

DIRECÇÃO NO BICENTENÁRIO

Com mandato até 25 de Abril de 2027, a associação é dirigida por Fernando Brandão, António Garrido, Emanuel Tavares, Francisco Brandão, Carlos Teixeira, Fábio Barbosa e Rúben Monteiro; Dario Tomé, Alberto Ferreira e Carolina Barbosa compõem a Assembleia Geral; Augusto Correia, Daniel Brandão e André Pinho asseguram o Conselho Fiscal.

UM PASO DOBLE INSPIRADO NA RAÇA AROUQUESA

A Igreja do Mosteiro de Arouca foi o palco da apresentação de um CD comemorativo do bicentenário, «um CD que é um tributo à nossa terra de Arouca, à nossa história e às nossas gentes», revelou o presidente da direcção, Fernando Brandão. «Propusemo-nos fazer uma coisa diferente.» O CD é uma compilação de obras inéditas encomendadas a compositores portugueses, cada uma com o seu estilo musical. «Desafiamos os compositores a basearem-se em motivos de Arouca», explicou. Assim nasceu um paso doble inspirado na raça arouquesa, uma sinfonia inspirada na recriação histórica do Mosteiro e peças de fantasia popular inspiradas no Cancioneiro de Arouca, verdadeiros tributos musicais à história arouquense. «Não é propriamente um CD da Banda de Arouca, é um CD de Arouca, é Arouca que está explanada neste CD», frisou o dirigente.

MOMENTOS DE HOMENAGEM

No momento solene de reconhecimentos, foram várias as entidades da associação agraciadas pela sua especial dedicação à causa da BM de Arouca – o anterior e o actual maestros João Dias e Ivo Silva, respectivamente, os músicos Valdemar Noites e Augusto Correia, o presidente da Assembleia Geral, Dario Tomé, e o actual líder da direcção Fernando Brandão, músico da banda há 36 anos, onze dos quais acumulados com o cargo de presidente.

DISCURSOS EXALTARAM A RESILIÊNCIA E A MISSÃO CULTURAL DA BANDA

Dario Tomé (Presidente da Assembleia Geral)

«Este aniversário é honra e glória»

«Este não é um aniversário qualquer, é honra e glória da nossa Banda. Saúdo todos os sócios beneméritos, todos os associados, todos os estimados músicos. Poucas bandas filarmónicas se podem orgulhar deste feito. Já percorremos Portugal inteiro e alguns países do estrangeiro a mostrar o que somos capazes de fazer naquilo que é de facto a primeira das artes – a música. Com sacrifício, mas nunca desvanecendo. É com esperança e alegria que vemos o número de crianças e jovens que frequentam a nossa escola, porque nos dão a certeza de um futuro promissor.»  

Ivo Silva (Maestro)

«A BMA é um exemplo de resiliência»

«A resiliência tem sido um valor demostrado por muitos músicos ao longo da história, como Beethoven, é também um valor essencial na minha vida, é também o da Banda Musical de Arouca. A capacidade de resistir, de continuar a apelar, a ensaiar e a representar o Município de Arouca exige uma capacidade de resiliência enorme, demonstrada em cada um de vós. Resiliência para com os ensaios, as festas, os concertos e todas as actividades. Músicos como o senhor Correia, o senhor Garrido, o senhor Aristides Noites, o senhor Valdemar Noites, estes e muitos outros músicos sabem o que significa a palavra resiliência. Continuam connosco e os seus exemplos são a prova do amor à música e a esta família que é a Banda Musical de Arouca. Precisamos da resiliência de todos para que a Banda continue a valorização patrimonial e cultural do Município de Arouca.»

Margarida Belém (Presidente da Câmara Municipal)

«É impossível contar a história do nosso concelho sem ouvir ao fundo a música da BMA»

«É com enorme honra, emoção e sentido responsabilidade que me dirijo a todos nesta celebração tão especial, os 200 anos da Banda Musical de Arouca. É uma das mais antigas e prestigiadas instituições culturais do nosso território. A Banda Musical de Arouca é património vivo da nossa comunidade, é a mais antiga associação do concelho em plena actividade e isso diz muito sobre a sua força, resiliência e importância. Ao longo de dois séculos, a Banda Musical de Arouca tem sido presença constante na vida cultural e social de Arouca. É impossível contar a história do nosso concelho sem ouvir ao fundo a sua música que acompanha as romarias, as procissões, as festas, inaugurações e celebrações cívicas e momentos culturais de grande relevância. A Banda Musical de Arouca é verdadeiramente parte da identidade de Arouca. Hoje conta com cerca de uma centenas de músicos, muitos deles integrados em instituições do ensino superior, bandas militares e orquestras de referência no panorama nacional.  A qualidade artística que alcançou é notável, mas igualmente extraordinária é a sua missão formativa. O seu centro de formação musical tem sido pilar para a criação de novas gerações de músicos e para o enriquecimento continuo da vida cultural arouquense. Caros músicos e dirigentes, obrigada pelo vosso talento, pelo vosso compromisso, por representarem com orgulho nosso concelho.»

MUNICÍPIO APROVA VOTO DE LOUVOR

Contemplada, no ano de 1992, com a Medalha de Mérito Municipal Grau Ouro, a BMA volta a receber elevada distinção na recente aprovação de um voto de louvor municipal por ocasião da celebração do bicentenário. O reconhecimento foi comunicado por Margarida Belém. «A Medalha de Mérito Municipal Grau Ouro, foi justa e merecida. Porém, no ano em que celebramos o seu bicentenário importa renovar esse reconhecimento e projectá-lo para o futuro. Por isso, tenho a honra de anunciar que o Município de Arouca aprovou e atribuiu um Voto de Louvor à Banda Musical de Arouca. Este voto é uma homenagem ao seu legado ímpar, ao seu exemplar serviço público e ao contributo inestimável que tem dado à cultura arouquense ao longo de 200 anos. É também um gesto de profunda gratidão a todos aqueles músicos, maestros, dirigentes, famílias e colaboradores que mantiveram esta instituição viva, sólida e respeitada. Continuará a ser um parceiro estratégico do Município para continuarmos a elevar o nome de Arouca», fundamentou a autarca.  


FERNANDO BRANDÃO: «O FUTURO DA BANDA ESTÁ ASSEGURADO»

Em declarações ao RODA VIVA, o músico-presidente Fernando Brandão destacou o espírito de união e de dedicação que fazem a força da instituição.

«A Música é uma linguagem universal e é um sinal de união como a que vemos nestas comemorações, os nossos músicos e maestros, os seus familiares, os nossos dirigentes, sócios, patrocinadores e parceiros institucionais. A Música une-nos para continuarmos a construir pontes, entre nós e com a comunidades. As comemorações foram realizadas com várias actividades ao longo do ano, mensalmente de forma a divulgar todas as suas valências – a escola de música, a banda infantil, a banda juvenil, os masters classes, os ensembles … foi uma forma de homenagear a história da Banda», referiu, abordando ainda a potencial artístico jovem da associação. «Chegamos ao fim destas comemorações com a sensação do dever cumprido, conseguimos valorizar, mostrar e honrar a história que a Banda tem. Temos muita gente jovem envolvida e com vontade de dar continuidade a esta associação. O futuro está assegurado», projectou.

«Continuo a ser músico e presidente. Ser presidente é mais difícil. Ser músico é uma paixão, é desfrutar daquilo que aprendemos com o maestro e os nossos colegas, ser dirigente implica responsabilidade na gestão, mas a recompensa também é gratificante ao vermos as pessoas felizes por estarem envolvidas nesta associação bicentenária», comparou, sobre a dupla missão que assumiu.

Augusto Correia, um decano da BMA

FALAR DO ENCONTRO DE GERAÇÕES

Falar da Banda de Arouca é ainda falar de convivência intergeracional. RODA VIVA teve a oportunidade de ouvir o membro mais antigo da banda – Augusto Correia, e o mais jovem, João Almeida.

Augusto Correia: «A Banda é para mim uma família, a segunda família»

Aos 79 anos, Augusto Correia sente-se bem com os 69 anos que leva já de BMA, sempre passados como músico e, diz, «com muitas histórias para contar.» «A Banda é para mim uma família, a segunda família. Estou na banda desde o tempo do maestro Carlos Alves, depois o Baltasar, o Aristides, o Valdemar, o João Dias e agora o Ivo», recordou do alto da sua boa memória. «A Banda está muito boa, temos um maestro que é um espectáculo», acrescentou. «Toquei flautim, flauta, requinta, saxofone alto e, hoje, toco saxofone barítono. Graças a Deus fui um bom músico, o que podia fazer, fiz, mas ainda ando cá.» Augusto Correia falou ainda da Banda como «uma boa escola, com muitos alunos» e recorda o sangue artístico da descendência: «O meu neto entrou para a Banda com oito anos e hoje é professor de música, é um artista, um dos melhores do país em primeiro clarinete.  O meu filho também esteve na banda, mas deixou a música.»  

Jovens músicos, com João Almeida ao centro

João Almeida: «Dá-me força fazer parte desta história bonita»

Com catorze anos, é o mais jovem músico da BMA. Toca clarinete e clarinete baixo. Natural de Mansores e estudante do 9º ano do Ensino Articulado da Música no Agrupamento de Escolas de Escariz, frequenta a banda há cerca de um ano e meio. «Já tinha familiares meus aqui a tocar e tenho desde pequeno uma grande proximidade com a banda, já ia vendo ensaios e concertos. Também sempre gostei muito de música e achei interessante entrar nesta missão», explicou sobre as razões que o trouxeram para o seio da banda. «Fazer parte de uma banda bicentenária é uma grande felicidade. É uma grande força fazer parte desta bonita história de dois séculos, construída por muitas pessoas, antigas e novas», confessa, salientando ainda que «É muito importante os jovens não se dedicarem apenas aos desportos, mas também à música. Quantas mais colaborações com os jovens as bandas puderem fazer, maior é a probabilidade de os cativarem para a música e para tocar um instrumento. As festas, as procissões, os concertos são sempre diferentes e isso é muito interessante», referiu o jovem músico da instituição bicentenária. MMS/RV

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