A atividade associativa é, por definição (e prática), uma expressão da sociedade civil. É lugar de uma genuína participação social, de construção comunitária e de promoção cultural. Arouca, em particular, é um exemplo extraordinário de dinâmica, proatividade e envolvimento.
As associações são laboratórios de cidadania e veículos importantes para a realização pessoal e social. Nelas aprende-se a decidir em conjunto, a respeitar diferenças ou a construir soluções com os recursos disponíveis. Estas organizações do terceiro setor, para lá de objetivos económicos ou de promoção pessoal, atuam em benefício da sociedade civil em diversas áreas, como saúde, educação e cultura. São locais com um propósito nobre e onde se pode construir uma sociedade mais justa e coesa.
Mas este propósito apenas se realiza com três pontos: 1. ação e atividade; 2. tempo dos diversos intervenientes; e, indispensavelmente, 3. financiamento.
• A vitalidade associativa mede-se na ação e atividade e não em qualquer existência formal. Considero que uma associação precisa desafiar, propor e mobilizar, respondendo ao seu propósito e acrescentando à comunidade. Não me refiro assim a associações ou agremiações que vivem para dentro, mas antes a exemplos de educação social (como as associações desportivas ou as bandas), de apoio social (IPSS), pensamento crítico (como o Círculo ou a 4540) ou de promoção de setores artísticos (cinema, música ou ofícios).
• O tempo é talvez o maior recurso do associativismo e o menos contabilizado. O trabalho voluntário é o que faz viver o movimento. O tempo para o terceiro setor (e a realização pessoal por essa via) é, aliás, um debate amplo que a sociedade contemporânea precisa ter. Existem já movimentos, como os da proposta da semana de quatro dias de trabalho, que o abordam. Uma sociedade mais participativa, mais envolvida, mais comunitária, necessita que de cidadãos com tempo para dedicar a causas que não apenas as laborais.
• O financiamento é o suporte material das associações. Contudo, ultimamente, vem crescendo uma ideia de que este financiamento deve ser necessariamente (ou crescentemente) público. Um modelo de apoio público é importante, seja via financiamento direto ou de auxílio logístico, mas não deve ser único. Isto por uma razão primeira, simples: em financiamento público, resulta impreterivelmente de um entendimento político que, embora legítimo, pode ser limitador. Assim, precisamos de uma estratégia para incentivar o mecenato particular (para lá da parca consignação do IRS a uma só associação ou do obscuro Golden Visa Cultural).
As associações devem ser incentivadas a procurar fontes alternativas de financiamento, com empresas, cidadãos e instituições – por exemplo criando um complemento público percentual que seja função do financiamento particular adquirido. Este modelo de financiamento promoveria o reconhecimento social e daria donativos proporcionais ao valor social ou obra moral de cada associação. Esta mudança de cultura, tanto nas associações como na sociedade, seria importante para a valorização do associativismo.
Num próximo artigo abordarei o papel do regulamento municipal no reconhecimento, promoção e financiamento associativo e na valorização do terceiro setor.
A acompanhar: Falando de associações com propósito, não podia não falar da associação cultural ‘A Música Portuguesa a Gostar Dela Própria’. Documenta, valoriza e divulga música e cultura popular portuguesa, e conta com mais de 20 registos, em Arouca. Sigam nas redes sociais ou visitem o site da associação (amusicaportuguesaagostardelapropria.org).