Foi uma plateia curiosa e atenta que se acomodou na Biblioteca Memorial D. Domingos de Pinho Brandão, no Mosteiro de Arouca, para assistir, no passado dia 20 de Outubro, ao concerto comentado que encerrou o “ECOS entre as Serras – Ouvir e Sentir” – Ciclo de Música da Freita ao Montemuro. Com direção artística da violinista Matilde Loureiro, e participação de Jun Bouterey-Ishido (piano e órgão) e Horácio Ferreira (clarinete), músicos premiados e com carreiras internacionais, esta iniciativa procurou contribuir para aproximar as pessoas da arte, em particular da música clássica.
A violinista Matilde Loureiro prendeu a atenção do público quando começou por descrever a música, e, com a ajuda de exemplificações dos músicos ao instrumento, contextualizou e guiou a escuta para aspetos particulares das obras. As duas obras apresentadas são referências do modernismo musical e incorporam influências do jazz e das tradições populares europeias: a Sonata em Sol Maior para violino e piano (1923-27), do compositor francês Maurice Ravel; e o Trio Contrastes (1938) para violino, clarinete e piano, do compositor e pianista húngaro Béla Bartók. Ambas foram interpretadas integralmente, de maneira exímia, e o pianista Jun Bouterey-Ishido, generosamente acrescentou A Catedral Submersa, de Debussy – compositor que influenciou de forma determinante Ravel e Bartók – para surpresa dos presentes.
A assistência manteve-se compenetrada durante a execução e o entusiasmo na ovação final mostrou o quanto a música tocou os espectadores.
Cordas e Conversas – encontro musical em Vila Viçosa
O périplo ao encontro da música teve início no lugar de Vila Viçosa, no dia 12 de Outubro (foto de capa). Os sons do violino entoaram no coreto situado no adro da capela de S. Pelágio, tendo por fundo a paisagem deslumbrante para poente. Várias dezenas de habitantes aceitaram o convite, escutaram atentamente e dialogaram com a violinista, que tem raízes familiares nesta localidade.
Nas palavras da directora artística, «o encontro em Vila Viçosa foi talvez aquele que, por ser o mais espontâneo e informal, uma experiência, por assim dizer, nos leva a refletir sobre o impacto significativo que podem ter projectos como este ciclo de música na vida cultural de pequenas localidades rurais. Ouvir um violino neste lugar é algo muito raro. Mais de metade da população (e importa salientar que várias dezenas são muito idosos e praticamente não saem de casa) aderiu e escutou atentamente. Ficou a curiosidade de ouvir mais e ficou também a vontade de fazer música, mais concretamente de voltar a juntar um grupo de cantadeiras que há vários anos estava parado. Poucos dias depois, reuniam-se várias pessoas, à noite, no mesmo local, para cantar e redescobrir “canções antigas”. Uma prova de como uma vida cultural rica e diversa aproxima as pessoas e fortalece laços no seio da comunidade».
Concerto em Moldes
No domingo, dia 13, a Igreja de Moldes acolheu um concerto de violino e órgão, exibindo a sua belíssima acústica. As obras de J.S. Bach que foram executadas, a solo ou em duo, ecoaram perfeitamente no ambiente e falaram por si só às pessoas presentes, perto de uma centena, maioritariamente residentes em Moldes, mas também de outras freguesias do concelho. Foi bastante impressivo o momento de interiorização e reflexão íntima, vivido coletivamente durante a audição, por proposta dos músicos que actuavam no coro. As palavras do Padre José Pedro Novais sobre a relação da música com o sagrado encerraram o concerto de forma inspiradora.
Apresentação na Academia de Música
Uma conversa sobre o trio Contrastes proporcionou a mais de 25 alunos uma aula diferente do dia-a-dia escolar. Foi com grande interesse que ouviram os três músicos profissionais falar sobre a música que tocam, e partilhar uma rica bagagem cultural, incluindo gravações antigas e material iconográfico, evocando tradições musicais diversas. A informalidade e a proximidade do encontro beneficiaram a interacção.
Música e Comunidade
O ciclo de música “Ecos entre as Serras”, que é fruto de vários anos de colaboração e amizade entre a associação Círculo Cultura e Democracia e a Direcção Artística, foi feito de dedicação, cumplicidades e sentimento comunitário.
Uma vasta rede de parceiros acarinhou e acolheu a iniciativa: Câmara Municipal de Arouca, Real Irmandade da Rainha Santa Mafalda, Academia de Música de Arouca, Junta de Freguesia de Moldes, Paróquia de Moldes, Paróquia de Espiunca e Centro Cultural e Recreativo de Vila Viçosa. Contou ainda com o apoio da CCDR NORTE, I.P. – programa NORTE PONTUAL.
Para o Círculo Cultura e Democracia, «iniciativas como esta são essenciais para promover a participação cultural e a coesão territorial» e «faz todo o sentido desenvolvê-las em parceria e em comunidade», desejando «que os ecos desta experiência continuem a ressoar, gerando novas reflexões e vivências».