Autor, actor, músico, produtor, realizador, Hélder Brandão Antunes é uma personalidade multifacetada no campo das artes. Natural e residente na freguesia de Rossas, herdou de todo um contexto social e familiar onde foi criado a veia artística que desde pequeno o levou aos palcos e às virtudes da representação. Veste a pele de actor, mas também não pára de criar e de se reinventar, explorando novas capacidades produtivas. Uma dinâmica que, depois de concluir o ensino secundário em Arouca e a formação no ensino superior, o conduziu mesmo à presidência da direcção do Centro Cultural e Recreativo de Rossas, um dos pólos da arte do teatro actualmente existentes no município de Arouca.
O criativo rossense conquistou, em Novembro, o primeiro prémio na categoria de Humor na IV Mostra Nacional de Jovens Criadores, mas já tinha avançado para novos patamares da produção e da realização, patentes no primeiro filme de longa metragem que ousou construir – “El Toro Negro”. Rodeado de um conjunto de amigos e colaboradores, juntou as boas vontades e assumiu todas as facetas de produção e realização. A Loja Interactiva de Turismo de Arouca, em Novembro, foi o local da última exibição pública de um projecto inédito e experimental, que deixou bons apontamentos para o futuro.

RODA VIVA assistiu e conversou com Hélder Brandão Antunes sobre esta inédita experiência cinematográfica, marcada pela ironia e o humor que caracterizam a maior parte da sua área artística.
Criado no mundo do teatro, o que o fez avançar para esta primeira experiência cinematográfica que intitulou de “El Toro Negro”?
«Este meu gosto pelo cinema surgiu quando, ou cresceu mais, quando apareceu o covid-19 e a Associação de Teatro Grupo Cultural e Recreativo de Rossas teve que se reinventar. Não podíamos fazer actuações e então, juntamente com o meu tio Miguel Brandão [professor e ator], criámos as “Curtas e Grossas”, que basicamente eram episódios que saíam semanalmente na internet, com pequenos sketches que nós inventávamos. Comecei aí a dar os primeiros passos, a fazer pequenas gravações, pequenos videoclipes de 3 a 5 minutos.»
A ideia para o filme já andava no ar?
«Depois o covid-19 foi-se embora e eu consegui apresentar a minha peça de teatro “Cavalo Branco”. Nessa altura eu já tinha um filme guardado na gaveta. Então pensei, porquê não o realizar? Por outro lado, as pessoas diziam-me, se já tens um filme escrito, porque não o fazes? E foi isso que eu fiz. Sou realizador, produtor, compositor e ator. Não o conseguia fazer sem o apoio de todos os meus amigos em Aveiro, dos meus irmãos, dos meus pais, da associação e todos os parceiros que estão envolvidos neste projecto e que disseram sim ao quererem ajudar-me, sem qualquer coisa em troca a não ser os créditos no filme. Viram o filme e ficaram todos muito contentes.»
Que relação entre “Cavalo Branco” e “El Toro Negro”?
«”Cavalo Branco” é a minha quarta peça original e este filme é uma prequela dessa peça. É uma peça que foi apresentada em vinte locais diferentes e está também disponível na internet. A última actuação ocorreu na Universidade de Aveiro.»
Quanto tempo demorou a fazer o filme “El Toro Negro”?
«Este filme, de uma hora e meia, demorou treze meses. Foi composto desde Outubro de 2024 até Novembro de 2025. A última cena que eu gravei para o filme, gravei-a no Monte da Senhora da Mó, ou seja, três dias antes do filme estrear em Aveiro.»

Identificam-se muitas filmagens no território de Arouca, em locais muito típicos, mas também em locais fora de Arouca.
«Sim, Arouca e também Aveiro, não saí daí. Nós somos de cá, conhecemos bem os lugares. São locais de destaque em Arouca. Sinto que é uma mais-valia para mim e para Arouca. Estou a promover Arouca, as vistas de Arouca, mas Arouca também me está a dar força no filme. Porque são locais lindos… as Minas de Regoufe, a Serra da Freita ou o Monte da Senhora da Mó, que para mim tem um enorme destaque na cena final do filme.»
Conhece bem o teatro, as peças. Como olha para o produto final que é este filme? Sente que conseguiu uma realização pessoal e artística?
Foi um passo em frente na sua vertente artística?
«Sim, sim. Sinto-me realizado. A logística de preparar um filme é muito diferente da logística de preparar uma peça de teatro. Tanto no seu desenvolvimento como no produto final.»
Permite-lhe um outro olhar?
«Numa peça de teatro estamo-nos a preparar para estar em palco e fazer rir e sentir o público, e eu gosto muito de teatro. No cinema é diferente, depois de ter o produto, eu sento-me como a plateia a ver. Ou seja, eu também faço parte do público, e isso é uma sensação diferente. É o poder de estar no público a ver a obra que criei, e isso é uma sensação muito boa.»
Até que ponto o cinema exigiu mais de si?
«O nível de construção é muito mais exigente. Uma peça de teatro está confinada ao palco; no filme estamos a falar de cenas em interior, em diferentes interiores, estamos a falar em cenas de exterior, em diferentes exteriores. Ou seja, tudo muda, em cada cena tudo muda. Os atores, o som, a luz, os enquadramentos, tudo muda. Este filme foi realizado com um tripé, uma câmara e um micro. Vou explorando as cenas, as repetições, certifico-me que os diálogos ficam bons, os cortes, as montagens, a banda sonora que compus, tudo o que é produção exige uma logística e uma organização específica. Cada cena é uma actuação diferente, em diferentes espaços ou em diferentes locais. No teatro temos tudo para a actuação, actuámos e vamos embora.»
Assumiu-se como uma espécie de treinador multifacetado que pôs toda a equipa a andar, os actores fizeram bem o papel…
«Sem a colaboração deles não fazia o filme, mas são todos amadores. É uma malta que disse que sim a este projecto, que me ajudou, mas, claro, há alguns que se destacam mais porque tinham já alguma experiência teatral. Mas, sim, são bons actores.»
Depois desta experiência bem-sucedida, vai passar a dedicar-se mais ao cinema?
«O que eu posso dizer é que nunca vou deixar o teatro. Na Associação Cultural e Recreativa de Rossas estamos a preparar uma nova peça e eu, enquanto Hélder Brandão Antunes, a nível pessoal, também estou a montar a minha quinta peça de teatro original, que prevejo que saia em 2026.»
Em que lugar fica então o cinema nos seus planos artísticos?
«Obviamente, não vou largar o cinema. Estou actualmente a pensar numa nova coisa, mas isso será ainda mais para a frente. O cinema não está adormecido cá dentro, requer tempo. Este filme não será o último.» MMS/RV

EL TORO NEGRO
Elenco: Rodrigo Gamelas, Francisco Cardoso, Júlia Mar, André Graça, Sofia Sinthon, Guilherme Amaral, Daniel Caetano, Bárbara Beleza.
Argumento, produção e banda sonora de Hélder Brandão Antunes.