A freguesia de Várzea homenageou, no passado sábado, 12 de Julho, trinta e seis antigos combatentes na guerra colonial. Em memória ou ainda em vida, os nomes dos bravos soldados que serviram Portugal em missões no Ultramar está perpectuado num monumento edificado à entrada da freguesia. Angola, Moçambique, Guiné, Índia ou Timor foram o destino das mais de três dezenas de jovens militares varzeenses dos cerca de três mil arouquenses que antes do 25 de Abril de 1974 partiram para a guerra do Ultramar. Na cerimónia, além de ex-combatentes e familiares dos homenageados, estiveram o presidente da Junta de Freguesia e o presidente da Assembleia de Freguesia, Humberto Mota e Joaquim Almeida, respectivamente, a presidente da Câmara Municipal de Arouca, Margarida Belém, o reverendo padre José Jesus, o presidente da Associação dos Ex-Combatentes do Ultramar de Arouca, Alfredo Martins, entre outras entidades.
PERÍODO DE INTERVENÇÕES
Humberto Mota (presidente da JF de Várzea)
«A freguesia de Várzea passa a ter a partir de hoje um monumento em memória aos combatentes que serviram o nosso país no Ultramar. A guerra do Ultramar representa uma mancha cinzenta na nossa história. Pais, mães, esposas e filhos viram partir para a guerra os seus entes queridos na flor da idade, deles ficaram sonhos e projectos adiados à espera de melhor oportunidade e à espera do dia do regresso a casa. Tínhamos, por isso, de respeitar e homenagear a memória daqueles que em nome da identidade nacional e ao serviço de Portugal passaram momentos que dificilmente esquecerão e dos que deram a vida pela Pátria. Para todos os combatentes, e sobretudo em memória dos que já partiram, todos sem exceção, serão para sempre imortalizados neste memorial em sua honra. Serão sempre recordados com saudade e com reconhecimento pelo serviço prestado à Pátria.»
Margarida Belém (presidente da CM de Arouca)
«Agradeço à Junta de Freguesia de Várzea por este momento de gratidão e de memória, em que lembramos o passado e aquilo que foi o serviço e a missão de todos os militares que partiram e que deixaram para trás os seus familiares, que ficaram eles também em sofrimento. Se há coisa que temos que ter bem presente é ter memória desses tempos e de garantir que não os viveremos. Temos que trabalhar com paz e pela paz.»

Alfredo Martins (Núcleo de Arouca da Liga dos Combatentes)
«Agradeço o amável convite que nos foi endereçado para nos associarmos ao evento festivo de inauguração deste monumento digno de lembrar os ex-combatentes da freguesia de Várzea. Encontrámo-nos aqui não para fazer a apologia da guerra, mas para prestarmos a nossa homenagem aos jovens desta freguesia que deram à Pátria o bem mais precioso que tinham – a sua vida. Foram cerca de três mil jovens arouquenses que estiveram envolvidos na guerra do Ultramar. Queremos, por isso, respeitar a memória daqueles que em nome da identidade nacional e ao serviço de Portugal, passaram horrores que dificilmente esquecerão e sobretudo aqueles que deram à Pátria o seu sangue generoso. Curvamo-nos em sinal de respeito e em sua honra. Todos os combatentes arouquenses que ficaram traumatizados física e psicologicamente merecem que não os esquecemos.»

António Rouxinol (ex-combatente da freguesia de Várzea)
«Um agradecimento à Junta e à Assembleia de Freguesia, porque desde a primeira hora estiveram sempre disponíveis para realizar este evento em memória dos ex-combatentes. Também um agradecimento especial a um jovem, ao senhor Sérgio Manuel Azevedo porque um dia levou a uma assembleia uma proposta de louvor a todos os ex-combatentes de Várzea. Somos um grupo de ex-combatentes que representam toda a freguesia de Várzea. Somos aqueles que na flor da idade fomos tirados aos nossos pais e familiares para ir combater em África numa guerra que não queríamos. Deixamos os nossos pais a chorar e sem saber se voltaríamos. Nesta placa constam representantes de quase todas as famílias de Várzea dos anos sessenta e setenta.»

António Lourenço (ex-combatente de guerra)
«Quero agradecer ao senhor presidente da Junta de Freguesia de Várzea, por ter acolhido a sugestão do promotor deste evento e ter mandado construir este memorial com o nome de todos os varzeenses que lutaram com estoicismo nas densas matas africanas, bem como na Índia e Timor para que a actual geração e as próximas saibam que eles honraram e defenderam a sagrada Pátria. Nunca os nossos governantes que vos enviaram para a guerra tiveram qualquer reconhecimento para convosco, muito menos os que conduziram o 25 de Abril de 1974, esses até parece que vos odeiam por terdes cumprido o vosso dever. Eu, que fui profissional e nessa condição tive o privilégio de conviver com centenas de jovens na flor da idade ao longo dos treze anos de guerra, sei o quanto sofreram física e psicologicamente, dando à pátria alguns a própria vida, outros ficaram estropiados, outros com traumatismos que perduram. Viveram em situações total mente adversas – vencimentos miseráveis, sobretudo as praças, péssimas instalações, precária alimentação e cada vez que saíam para operações militares sem saber se voltavam. São verdadeiros heróis que merecem ser admirados e respeitados. Este memorial irá perpetuar a valentia e a heroicidade dos militares de Várzea.»

Missa celebrada pelo Bispo Auxiliar D. Roberto Mariz
Terminada a sentida homenagem, foi benzida e descerrada a placa evocativa e escutado o Hino Nacional, seguindo-se a celebração de uma missa conduzida pela Bispo Auxiliar do Porto, D. Roberto Mariz, em memória dos arouquenses de Várzea falecidos no Ultramar. MMS/RV (texto e fotos)