Decorreu na tarde do sábado passado, dia 15 de Março, a primeira tertúlia de “Histórias de Vida”, promovida pelo Fórum Comunitário de Canelas e Espiunca, contando com a presença de Adriano de Pinho Soares (conhecido por “Bigodes”).
A conversa, que decorreu na Casa da Sobreira, em Canelas, foi moderada por Fernanda Vasconcelos, do Fórum Comunitário de Alvarenga, lançando-se assim, também, as primeiras parcerias interfóruns comunitários do concelho de Arouca. Durante toda a tarde, Adriano de Pinho Soares, de 90 anos, partilhou várias histórias. Antes dos 10 anos, já era trabalhador na recolha de resina, passando também pelas Minas de Regoufe. Nasceu numa família pobre de seis irmãos e aprendeu as artes do seu pai, um hábil carpinteiro, pedreiro e “louseiro” , tornando-se ele próprio mestre na arte de trabalhar o xisto.
Enfrentando a adversidade da pobreza, percorreu grandes distâncias a pé para trabalhar nas freguesias mais longínquas, onde se via obrigado a pernoitar, apesar da tenra idade. Adriano “Bigodes” testemunhou a chegada da luz eléctrica, e a construção das primeiras estradas que facilitavam o acesso ao centro da vila de Arouca. É no trabalho de pedreiro que aprende a fazer de tudo na construção civil. Originário da terra das ardósias, torna-se famosa a sua mestria a colocar a lousa nos telhados, além de construir todo o tipo de casas, mas principalmente as que incorporam a colocação em xisto. Não há uma aldeia entre as serras da Freita e de São Pedro do Sul que não tenha requisitado os seus serviços.
Para além das suas habilidades como artesão, Adriano “Bigodes” nutre uma paixão pela história e colecciona testemunhos autênticos de pessoas ao longo dos seus trabalhos. Na década de 80, a Louseira de Canelas reabre a sua exploração, e procura alguém que ensine a arte de “lousar” e aplicar esta matéria-prima. É, então, convidado pelos municípios de Arouca e São Pedro do Sul para ensinar a arte de trabalhar o xisto. Das suas memórias fazem parte muitas histórias das aldeias de Cabreiros e da Pena. Numa colaboração notável com Manuel Valério, fundador do Museu das Trilobites, Adriano “Bigodes” recriou vários trabalhos que mergulharam nas raízes históricas da região, ajudando a manter vivo esse património. Infelizmente, o sonho de Adriano “Bigodes” de ter a sua história contada pela voz de Manuel Valério foi interrompido pelo falecimento repentino do seu amigo.
Esta primeira edição de “Histórias de Vida” contou com duas dezenas de pessoas, que participaram activamente na tertúlia, partilhando igualmente histórias e memórias que se iam cruzando no testemunho de Adriano de Pinho Soares, que também chegou a trabalhar em cemitérios, fazendo sepulturas e transladando corpos quando necessário.
Os Fóruns Comunitários são iniciativas da comunidade, que surgiram a partir de um desafio lançado às freguesias pela Rede Social do Município, contando com o apoio da ADRIMAG, através do projecto AroucaInclui.
