Câmara aprovou edifício industrial em zona habitacional e moradores protestam

Depois de reclamação presencial na última sessão da Assembleia Municipal, uma habitante representativa dos moradores do lugar de Alvite de Baixo, em Escariz, expressa em texto de opinião a contestação ao licenciamento de um edifício industrial [alvará de construção 118/2025 emitido a 14 de Agosto] que foi aprovado na autarquia e vai ser erigido numa envolvente habitacional.


Da paz ao barulho: indústria na aldeia, a que custo?

A aldeia de Alvite de Baixo, na freguesia de Escariz, vive tempos de incerteza e inquietação. 

Está prevista a instalação de um pavilhão industrial destinado a atividades de serralharia pesada e metalomecânica em plena zona habitacional — um cenário que, para quem ali vive, representa uma ameaça real à qualidade de vida que caracteriza a localidade.

Estamos a falar de uma atividade industrial com forte impacto sonoro, movimentação de veículos pesados e risco de poluição ambiental, destruição do solo, poluição dos campos, que até hoje foi sempre o sustento para alguns habitantes.

Tudo isto numa zona habitacional onde os residentes, para poderem construir as suas casas, tiveram de cumprir regras urbanísticas e paisagísticas rigorosas — desde recuos obrigatórios, materiais aprovados, cores específicas, entre outras exigências, com o objetivo de proteger o enquadramento natural e o sossego da aldeia.

Mesmo que os próprios habitantes quisessem fugir de tal sucedido, não tendo como hipótese, vender as suas moradias, quem vai querer comprar uma habitação no meio de um Pavilhão Industrial?

Quem vai indemnizar a desvalorização das  nossas habitações e dos terrenos para venda?

Perante isto, é legítimo perguntar: como pode ser aceite, no mesmo espaço, uma estrutura industrial com características tão incompatíveis com o contexto envolvente? Não se trata de estar contra o investimento, mas de questionar a coerência das decisões e a justiça na aplicação das regras.

A resposta da Câmara Municipal de Arouca de que o projeto “reuniu as condições legais para licenciamento” levanta mais dúvidas do que esclarecimentos. O cumprimento técnico da lei, por si só, não responde às questões de ordem ética, social e ambiental que esta situação levanta. Afinal, o ordenamento do território não se faz apenas com regulamentos; faz-se com bom senso, equilíbrio e respeito pelas comunidades.

Acresce ainda o facto de existir, a escassos dois quilómetros do local previsto, uma zona industrial devidamente equipada e preparada para acolher este tipo de atividade. Por que razão não foi essa a opção considerada? Que interesses se sobrepuseram ao bem-estar da população?

A aldeia não está contra o progresso. Está contra decisões mal ponderadas, que colocam em causa aquilo que torna estes lugares especiais: o silêncio, a paisagem, a segurança, a identidade. A industrialização desordenada e fora de sítio não é desenvolvimento — é retrocesso disfarçado de avanço.

Alvite de Baixo merece melhor. E os seus habitantes merecem ser ouvidos antes que o ruído das máquinas fale mais alto que as suas vozes. Fabiana Rocha

Outros Artigos de Interesse

Sociedade

Comunidade do Polo Escolar de Rossas celebrou o livro de contos “Heróis Saudáveis Contra o Desperdício”

Concurso promovido pela Auchan
Sociedade

Nova loja ‘Meu Super Cavadinha’ chega a Fermedo

Inauguração comercial aconteceu no dia 27 de Novembro, na praça central de Cabeçais
Sociedade

Vozes do canto popular polifónico voltam a encontrar-se em Moldes

As cantadeiras do Conjunto Etnográfico de Moldes abriram o espectáculo, entoando a duas e três vozes, corais polifónicos de cariz sagrado e profano