“A Última Lição de Manuel Sobrinho Simões”: uma lição de humildade e sabedoria

«É uma lição de humildade e sabedoria. Diria que as duas coisas se interligam, todos os sábios que conheci tinham a exata noção da sua pequenez face à imensidão. Manuel Sobrinho Simões, consensualmente considerado um dos patologistas mais influentes do mundo, professor catedrático de Medicina, fundador do IPATIMUP, prémio Pessoa e o português mais respeitado entre os especialistas mundiais da doença mais terrível e ameaçadora para o ser humano: o cancro.» As palavras são de Luís Osório, conceituado jornalista e escritor, autor de onze livros, dos quais o mais recente – “A Última Lição de Manuel Sobrinho Simões” – foi apresentado, esta terça-feira, na Loja Interactiva de Turismo de Arouca.

O autor do livro Luis Osório autografa um exemplar

«AROUCA É A MINHA NATUREZA»

Em nome do Município, a vice-presidente da Câmara Municipal fez as honras da casa, para uma apresentação que decorreu sem formalismos, antes privilegiando a informalidade e a espontaneidade, sem, contudo, perder o rigor, tão próprias da forma de conversar e de comunicar do principal interlocutor da tarde e da nova edição da Contraponto, o emérito Manuel Sobrinho Simões. De raiz arouquense, Manuel Sobrinho Simões veio, através da escrita de Luís Osório, partilhar com os arouquenses a sua última lição de vida, porém, uma lição que está para lá da mera cronologia, pois o legado científico, cultural e humanista que tem proporcionado à comunidade, ao país e ao mundo não tem tempo nem fronteiras. «As minhas ligações a Arouca foram e continuam a ser construídas sobre as pessoas. Arouca é a minha natureza», frisou Manuel Sobrinho Simões, perante uma plateia atenta, que quase esgotou o anfiteatro.

AUTARQUIA E EDITORA ENALTECERAM A OBRA

«Arouca é centro do mundo de Manuel Sobrinho Simões, é um amigo da terra e um contador de histórias por natureza. Para nós é uma honra ver Arouca tão falada nas páginas deste livro, sempre com tanta emoção e com tanto carinho», referiu a autarca na nota introdutória. Jornalista e editora executiva da Contraponto, Marta Mesquita contextualizou a nova publicação da autoria de Luís Osório, um perfil editorial que vai dando espaço a memórias e biografias e à colecção A Última Lição, destinada a «alguns dos mais destacados professores do nosso país», explicou, passando a palavra ao ilustre patologista.

Manuel Sobrinho Simões

«ADORO PENSAR COM O OUTRO»

«Sou muito amigo do Luís [Osório]. Conversamos durante cerca de dois anos. Aquilo que me caracteriza é muito a memória, a narrativa é dele, ele é que a idealizou e fez este livro muito bem.» «Gosto de falar com as pessoas, adoro sobretudo pensar com o outro», contou Sobrinho Simões sobre a sua fórmula de fazer avançar o mundo. «Para mim é um orgulho ouvir e estar tão próximo deste homem, um dos melhores portugueses, pois vivemos num tempo em que cada vez há menos pessoas que pensem e que nos ajudem a iluminar o caminho», retribui Luís Osório, o escritor de livros que foi director de alguns dos jornais nacionais de referência.

«QUANDO FALAMOS DE CANCRO, A EMPATIA DE MANUEL SIMÕES É EXTRAORDINÁRIA»

«Não sou propriamente um cientista, sou bom a fazer diagnósticos e gosto de ser professor», continuou o empreendedor do IPATIMUP – Instituto de Patologia e Imunologia Molecular da Universidade do Porto, associação sem fins lucrativos que tem por objectivos compreender as causas e a evolução das doenças oncológicas humanas -, onde ainda hoje trabalha. No ping-pong das intervenções, salpicadas também de bom humor, Luís Osório reforçou o perfil do seu interlocutor: «Manuel Sobrinho Simões tem o sonho, mas também a competência e a dimensão racional e estas duas dimensões são difíceis de encontrar na mesma pessoa. É um patologista e um académico respeitado, dotado de um universo de palavras que quando abre a boca nos surpreende. Passou parte da sua vida atrás dos microscópios a olhar para as lâminas, onde vê pessoas, de alguma maneira também. Quando falamos de cancro, a capacidade de empatia e de compreensão do outro é algo extraordinário em Manuel Sobrinho Simões», sublinhou, diante do alastramento do individualismo e da desumanização.

«ASSUSTAM-ME O CANCRO E AS DOENÇAS DEGENERATIVAS DE NATUREZA MENTAL»

«O problema do cancro assusta-me. Temos de ter a capacidade de falar com os outros e de os compreender, vamos organizar a saúde a pensar nas pessoas», referiu Sobrinho Simões, vertendo também a sua visão política de médico e cidadão inquieto com as grandes questões. «O cancro em Portugal e na Europa está a aumentar, mas não está a aumentar a mortalidade por causa do cancro. Há dois outros problemas que muito me preocupam, a pobreza e a demografia. Cada vez vamos viver mais tempo e os problemas vão aumentar se a sociedade não encontrar respostas adequadas. A solidão, a inseguranças, o sofrimento. O meu medo em Portugal são as doenças degenerativas de natureza mental», acrescentou, já no diálogo com o público.

“A Última Lição de Manuel Sobrinho Simões” vai já na sexta edição, 180 páginas de prosa fluída em que Luís Osório decompõe a personalidade multifacetada de um dos maiores vultos da medicina portuguesa: o Provocador, o Aluno, o Professor, o Médico, o Político e o Homem de Família, são os capítulos a descobrir. MMS (texto e fotos)

Outros Artigos de Interesse

Sociedade

Grandiosos festejos em Fermedo

Esta animação é o substrato de solidariedade e o desanuviamento do moral das pessoas
Sociedade

Câmara de Arouca prepara contratação de mais três funcionários

Dois nadadores-salvadores e um licenciado em arquitectura
Sociedade

AE Arouca presente nas comemorações dos “40 anos de Portugal Europeu”, em Lisboa

Evento assinala os 40 anos do Tratado de Adesão de Portugal à CEE