Investigadores e estudantes aliados na defesa da água no Dia Mundial do Ambiente

«Se os nossos rios falassem…», foi com este apelo à escuta activa que Nuno Formigo, docente do Departamento de Biologia da Faculdade de Ciências da Universidade do Porto, abriu o livro das questões ambientais tratadas na Escola Secundária de Arouca na celebração do Dia Mundial do Ambiente (5 de Junho). Orador convidado, o professor universitário falou dos rios como se de filhos se tratasse, de tanto os conhecer bem, quer nas virtudes intrínsecas à continuidade da vida quer nas rasteiras e ameaças que a toda a hora os humanos lhes direccionam. «É preciso pensar bem as políticas da água». O enquadramento ideal para uma manhã inteira bem aproveitada junto de especialistas e de equipas de alunos das turmas A, B e C do Curso de Ciências e Tecnologias do 10º ano de escolaridade, que trouxeram ao debate do Dia Mundial do Ambiente as metodologias e as conclusões dos projectos de investigação que realizaram ao longo do ano lectivo na componente interdisciplinar do Domínio de Autonomia Curricular. O trabalho colectivo em prol da ciência e do ambiente envolveu saídas de campo e o consequente tratamento laboratorial, cuidado e rigoroso, nos ramos das ciências bio-físico-químicas. O alvo dos estudos dos alunos foi o ribeiro de Gondim, um ecossistema que disse algo sobre a qualidade ecológica que vai correndo por Arouca.


Ciência Cidadã no ‘Arouca Geopark’

“Rios (con)vida no Arouca Geopark”, assim se intitulou o tema do dia que, além de Nuno Formigo, juntou à discussão os contributos do investigador Jael Palhas, do Centro de Ecologia Funcional da Universidade de Coimbra, o Município de Arouca, através do seu vereador para o Ambiente, António Carlos Duarte, e a Associação Geoparque Arouca, representada por Susana Bastos. Os parâmetros microbiológicos apurados pelos alunos concluíram pela «má ou medíocre qualidade da água» que corre na Ribeira de Gondim, um estado negativo que muito brota da actividade antrópica que se passa nas suas margens e fora delas». Dos jovens cientistas do primeiro ano do ensino secundário da escola arouquense veio ainda o estudo complementar “Plastic Pirates”, um bom exemplo do projecto “Ciência Cidadã” tratado no Clube Ciência Viva na Escola e que procura acrescentar conhecimento e cidadania aos jovens europeus pela via de uma abordagem participativa, consciente e responsável em relação ao meio ambiente. «80% dos resíduos colhidos nas margens dos rios são artigos de plástico», revelaram os estudantes.


«Exigimos demasiado dos rios»

«Exigimos dos rios muito mais do que aquilo que eles nos podem dar», alertou o biólogo Nuno Formigo, no quadro dos desafios para uma gestão integrada da água. «A água doce é escassa no planeta e é ainda grave a maneira como gerimos e cuidamos dos nossos rios», acrescentou o docente. Foi ainda em correntes turvas que Jael Palhas demonstrou as ameaças permanentes aos ecossistemas ribeirinhos. A extinção de espécies animais e vegetais, as vegetações invasoras e as intervenções feitas nos rios sem o necessário conhecimento científico e ambiental de quem as executa são questões preocupantes. «Há danos estruturais e colaterais gigantescos», avisou o investigador da Universidade de Coimbra.


«Os projectos são úteis para nos olharmos ao espelho»

Na sessão de abertura, a directora do Agrupamento de Escolas de Arouca, Amélia Rodrigues, valorizou os projectos levados a cabo pelos alunos e os professores com a colaboração dos parceiros da escola, como o Associação Geoparque Arouca e a Câmara Municipal, e agradeceu ainda aos especialistas convidados para o Dia Mundial do Ambiente. «Estes projectos têm a vantagem de serem desenvolvidos num contexto local, é um trabalho excelente», referiu a docente. «O ambiente é um dos pilares da sustentabilidade. Há uma pressão urbana constante sobre o território e o ambiente e há equilíbrios que é preciso encontrar, uma questão difícil para quem tem de gerir políticas públicas», realçou o vereador António Carlos Duarte. Também parceira da escola, a Associação Geoparque Arouca «tem a educação e a geo-conservação como um dos seus eixos de intervenção. Se queremos continuar a ter água potável e um ambiente saudável temos de continuar a zelar pelo nosso território. Os projectos aqui apresentados servem para nos olharmos ao espelho e para trabalharmos colectivamente pela preservação dos nossos ecossistemas», referiu Susana Bastos.


Mesa redonda

O Dia Mundial do Ambiente na Escola Secundária terminou com uma mesa redonda conduzida por Cátia Cardoso, momento colectivo que juntou entidades e alunos no aprofundamento das questões ambientais, mormente as da água imprescindível à vida, e as formas de as resolver antes que a humanidade se afunde nos problemas que ela própria criou. A jornada ambiental prosseguiu na parte da tarde com uma acção concreta de limpeza da Ribeira de Gondim, aberta à comunidade, onde estiveram envolvidas algumas turmas do 8º e do 10º ano de escolaridade.

«Vimos nestes projectos a qualidade do trabalho dos nossos alunos e aquilo que eles são capazes. Acredito que conseguimos contribuir, citando um dos oradores, com mais uma migalha, para este pão gigante, que é o nosso Planeta, pois só com acções locais e de promoção de educação ambiental, como esta, conseguimos contribuir para a formação de gerações mais responsáveis e capazes de mudar as atitudes em prol de um ambiente melhor», referiu a docente de Biologia Glória Regina Tavares, coordenadora do Departamento Curricular de Ciências Naturais e Físico-Químicas do agrupamento. O evento teve ainda a colaboração dos Cursos Profissionais de Multimedia e Restauração. Manuel Matos Sousa/RV

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