ACR Mansores: jovens actores representam o Diário de Anne Frank

Quando os espectadores entram na sala, sobre o palco em penumbra já lá está a figura silenciosa, hirta e aterradora de Adolf Hitler (representada por Leandro Silva). O anúncio de que nada de bom está para vir. É o início perturbador que irá vincular a plateia à representação da peça “Anexo 263 – O Tempo Escondido”, uma adaptação de “O Diário de Anne Frank” levada ao público pela Associação Cultural e Recreativa de Mansores através da sua “Oficina de Expressão Dramática Reinventa-te”, um projecto enriquecido pelo Orçamento Participativo e frequentado nesta altura por 27 crianças. Na peça, são onze os pequenos actores entre os 10 e os 16 anos que crescem na interpretação de uma das mais terríveis passagens da história humana: o nazismo e o extermínio do povo judeu, recriando o quotidiano de dois anos de refúgio da adolescente Anne Frank, sua família e outros judeus, na fuga à perseguição da irracionalidade nazi. Um trabalho profundo sobre o palco que agarra o público até à última frase e ao último gesto. As personagens de roupagens às riscas brancas e azuis são uma constante inquietadora no palco e também um alerta deixado pelas palavras esperançosas de Anne Frank, essa excepcional jovem falecida em 1945, aos 15 anos, no campo de concentração de Bergen-Belsen: «O que é feito não pode ser desfeito, mas podemos prevenir que aconteça novamente.»


«O teatro é um grande mensageiro»

Foram já dois os espectáculos de casa cheia no Salão Paroquial de Mansores, a 21 e a 27 de Abril, as primeiras mostras de um evento teatral que pede alargamento das fronteiras geográficas da representação. É esse também o objectivo de Joana Silva – a dinâmica presidente da ACR Mansores, licenciada em Teatro e Educação e monitora do projecto Reinventa-te – que assume a direcção artística e a encenação da peça que concretiza o desenvolvimento de competências socioemocionais dos seus pupilos. «São onze jovens com personalidades completamente diferentes, estão numa fase da vida de descoberta de novos desafios, tinham toda a facilidade para desistirem e procurarem outra atividade, mas quiseram ficar comigo e com este nosso projecto. São capazes de mostrar talento e de enfrentar um desafio tão importante e difícil como este, considerando as suas idades. O teatro não é uma brincadeira, é uma necessidade, é um exercício de liberdade, é uma bonita forma de unir pessoas. Agora queremos apresentá-lo noutras localidades», frisou Joana Silva ao RODA VIVA.

Adriana Portugal encarnou o papel de Edith, mãe de Anne Frank, e exemplificou com autenticidade e entusiasmo as virtudes do palco: «Para quem está aqui no palco é uma grande aflição, pois não é fácil ser actor. Nós queremos passar a emoção certa, porque o teatro não é só comédia, também tem tristeza. O teatro é um grande mensageiro», referiu a jovem mansorense no final da apresentação. Manuel Matos (fotos: Paulo Jesus)

(mais desenvolvimentos na edição impressa)

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