ARMANDO ZOLA
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"Vou protestar, denunciar, vou alertar"
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OPINIÃO | Nada do que é ideia ou obra humana é perfeito ou insuperavelmente eterno
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Faz 40 anos, o original e criativo António Variações escrevia e ensaiava o tema, tão actual hoje, da sua canção "Guerra Nuclear" , que deixou inédita e a que, agora, no seu 1º single a solo, em interpretação emotiva e irrepreensível, Marisa Liz juntou a sua voz. Por entre súplicas "ao Deus da vida", Variações pressentia e alertava já: "Estão-se a despir de toda a humanidade/Vou Protestar/Denunciar, Vou alertar/Querem fazer a guerra nuclear/Vou protestar/Denunciar, estou-me a alarmar". O dito "mundo civilizado", esquecido de todas as guerras espalhadas pelo Planeta que, dia a dia, ceifam vidas incontáveis e semeiam a miséria e a fome, preenche hoje a memória e a retina com a guerra fratricida, ignominiosa como todas, que lhe está mais próxima, entre dois países e duas nações de um mesmo povo - o eslavo - que percorreu junto séculos de história, desde os primórdios da Rússia Kievana, passando pela Moscóvia e pela Rússia Petrina, até à contemporaneidade, países e nações esses que, agora, gladiam entre si, em mortandade contínua dos seus melhores, esgotando os seus arsenais bélicos que, ano a ano, laboriosamente, para a guerra, foram recheando, e os dos seus aliados, dos dois blocos militares, económicos, geográficos, que, pouco a pouco, mas de modo já evidente e profundo, de novo se foram cavando e que aí estão para continuar ou alimentar essa guerra até onde for preciso, porque, sustentam os contendores e os que mais empenhadamente os apoiam, "se tem de vencer". Nada do que é ideia ou obra humana é perfeito ou insuperavelmente eterno. Seres inteligentes que são - tantas vezes parece que não! - porque se não enfrentam, olhos nos olhos, ouvem as suas razões (não se faça de conta que as não têm) as discutem e procuram o entendimento até o encontrar, na vez de prosseguirem a guerra, até que um vença - se alguém subsistir para declarar o vencedor - dizimando as juventudes enviadas, sem poderem negar-se, para a frente de batalha, traumatizando para a vida os que não morrem, desalojando milhões, destruindo e arrasando os países beligerantes, em especial a Ucrânia que é palco das sangrentas e demolidoras batalhas, dificultando, ou mesmo tornando insuportável, a vida dos que, sem riqueza, habitam os países que, para a guerra canalizam os recursos de que precisam, ou que, de um modo ou de outro, sofrem pesadamente os seus efeitos? Com a "louca estupidez humana" que, fez já um ano, massacra aquelas juventudes, dilacera aquelas gentes, sobretudo as ucranianas, e afecta e tolhe quase todos os que habitam esta "Nossa (de todos) Casa Comum", apenas ganham as poderosas e influentes indústrias de armamento, as de extracção e transformação de metais para esse fim e de petróleo e gás natural e todas as demais dependentes dessas ou delas complementares. Em todas, a procura excede largamente a oferta, com todas as copiosas vantagens para quem produz e vende. No meio de tanta loucura, até Deus - perdoe-se-me a blasfémia - parece perdido e repartido: de um lado, esquecido o 5º Mandamento, concede-se que, tendo o pensamento na guerra, em certas circunstâncias se possa "matar"; do outro, se é um dos Patriarcas, abençoa a sua juventude para que lute, vença e não morra; se é o outro Patriarca, garante a entrada certa e directa no Paraíso aos jovens do seu lado que morram, matando. Os homens e os deuses estão loucos! Nas palavras do talentoso e inquieto barbeiro/cantor, cedo desaparecido, a "loucura está a vencer o juízo" e "o ódio a amizade". É preciso, é urgente, travar aquela e este, para que pare a hedionda mortandade e se não chegue à fase da guerra de que não sairão nem vencedores, nem vencidos, nem quem reste para habitar esta "Nossa (quase perfeita) Casa Comum", nem sequer aqueles - e tantos são - que cá deviam penar em expiação de suas culpas por terem provocado, desencadeado, incentivado, ou alimentado a hecatombe.
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