IVO BRANDÃO
 
Esta (não) é a minha Igreja
 
OPINIÃO | Mais não conseguem do que um desalento dos fiéis
 
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Um dos pilares da Igreja Católica é o anúncio da Boa Nova. Ao fazer de nós pedras vivas, faz de nós anunciadores dessa vida nova, dessa nova forma, radical, de olhar para o passado, para o presente e para o futuro. Uma dádiva de si mesmo, um deixar-se guiar por uma força que nos mostra, a cada passo, um ângulo diferente da realidade, e como devemos posicionar-nos perante ela. Diferente disto, é dizer-se que cada um tem a sua fé. Não há uma Igreja feita à medida dos nossos quereres e recusas, à medida das nossas fraquezas e preguiças, à medida da nossa pressa e da facilidade que nos der jeito. Por outro lado, ainda, há que distinguir o que é a Igreja (o povo de Deus, os fiéis, essas pedras vivas que lhe dão vida) e a sua estrutura dirigente, clerical (os padres, os bispos, os cardeais).
E foi, precisamente, em algo que deveria ser transversal e estrutural que a estrutura dirigente da Igreja falhou, recentemente. O reconhecimento, por parte de D. José Ornelas, de que não tinha conseguido exprimir-se e fazer passar a mensagem como desejaria, é o reconhecimento de um falhanço rotundo.
Completo. Imensamente doloroso. Ao encomendar um relatório a uma comissão independente, constituída por profissionais da mais alta estirpe, e olhando para a realidade europeia (não vamos mais longe), seria de se esperar algo do género do que o relatório final trouxe à tona. E os bispos portugueses, que mais parece que não tiveram tempo (nem disposição) para se debruçarem sobre este assunto, fizeram com que o presidente da Comissão Episcopal aparecesse diante de nós com um ar impreparado, sem convicção no pedido de perdão e sem demonstrar qualquer sentimento de empatia para com as vítimas. Diz quem esteve presente que algo de surreal parece ter acontecido, e que o bispo José Ornelas não terá a mesma opinião que o presidente da Comissão Episcopal José Ornelas. E nem falemos sobre as declarações do Cardeal Patriarca de Lisboa, cuja atitude, ainda enquanto bispo do Porto, foi, no mínimo, questionável, perante um caso de suspeita, cujos contornos nunca quis apurar. Na altura, a sua postura foi, aliás, a de quem preferiu usar esse caso em seu proveito.
Mais uma vez, a estrutura dirigente da Igreja não anteviu as consequências das suas posições. Os bispos continuam a passar a mensagem de que vivem nos seus casulos, completamente alheados, desfasados e desinteressados da realidade, preferindo, em caso de terem de optar, o agir político à ruptura, essa mesma ruptura que Cristo assumiu ser e vir trazer. Com este tipo de acção, mais não conseguem do que
um desalento dos fiéis, um profundo desacordo, uma ainda maior propensão para que se volte à questão da minha fé, mais do que da verdadeira Fé.
O Papa Francisco foi claro, até mesmo na documentação produzida pelo Vaticano. Suspeita, suspensão. Não o enredar-nos em normas do direito canónico, ou na burocracia dos arquivos, ou nas pseudo-investigações que possam fazer-se.Quem ler os relatos das vítimas, não consegue pensar de outra forma, e o que os senhores bispos conseguiram (salvo muito honrosas excepções - Braga, Angra do Heroísmo, Évora) foi alhearem-se, separarem-se, afastarem-se ainda mais do seu povo.
Desta forma, torna-se muito difícil defender quem, hierarquicamente, é responsável pela orientação dos nossos destinos. Torna-se muito difícil aceitar que os nossos bispos não ouvem o Papa, e não replicam as suas acções. Torna-se muito difícil não alinhar nas críticas (justas) às cada vez mais cortantes contradições entre o âmago do Evangelho e o que, frequentemente, é praticado, sobretudo pela hierarquia. Se uma das funções da Igreja é comunicar, não podemos dar-nos ao luxo de termos quem comunique mal.
O Cardeal Tolentino de Mendonça tem duas orações muito singelas e, por isso mesmo, belas. Numa, dá graças pela sabedoria daqueles que se deixam encantar pelas coisas simples, que reservam parte do seu tempo para essa atitude de surpresa, que abre a porta à escuta do outro. Em outra, dá-se conta de que, apesar do andar errático, da falta de rumo, da dispersão, da fuga e, sobretudo, do esquecimento, ou até mesmo em tudo isso, estamos a caminhar para Deus. Esta é a Igreja, a minha Igreja. A Igreja dos senhores bispos não é a minha.
 
Arouca

Terça, 30 de Maio de 2023

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"Neste ambiente associativo todos são precisos"

Diogo Teixeira, presidente do Centro Desportivo e Recreativo de São Pedro de Nabais, em entrevista ao RV

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