Sei que nos dias que correm, não faltam opiniões sobre o ensino ou sobre a educação ou sobre os professores, ou sobre as escolas, ou sobre qualquer coisa relacionado com todos estes temas. O tema relacionado com a Educação, por estes dias, assemelha-se ao futebol. Todos nós consideramos ser possível ter uma opinião e mais ainda, uma solução para todos os problemas que lhe estão subjacentes. Não faltam por isso treinadores de bancada. Embora tenha feito este preâmbulo, não julgue o caro leitor que me irei escusar, de ser, também eu, um treinador de bancada. Dito isto, começaria por ressalvar que, ninguém como os professores, sabe o que passa e, ninguém melhor que eles, percebe o quão difícil é estar sobre um escrutínio contínuo e sistemático em atividades que não são o seu verdadeiro core. Por vezes parece ser secundarizado que a razão principal da existência dos professores é ensinar e educar. Urge por isso, recolocar no centro das suas funções o ensinar. Refiro-me à crescente burocracia que se queixam ser a responsável pela grande parte do seu tempo, sendo por isso obrigados a negligenciar a parte mais importante da sua atividade que é desenvolver as suas competências para o core da sua função. Obviamente que para tal, muito têm contribuído as alterações sistemáticas geradas pela tutela, mas acredito que também, e com um peso significativo, o próprio corpo diretivo de cada um dos agrupamentos. Pois, não se opor ao erro é aprová-lo e não defender uma mudança é negar a sua necessidade. É neste ponto que gostaria de centrar a minha opinião. Na relevância, preponderância e competência das equipas diretivas dos respetivos agrupamentos. Tenho muitos amigos e familiares que são professores e que lecionam em variadíssimas escolas. Na realidade, o que encontro como fator coincidente é o desapontamento à conduta dos respetivos diretores dos agrupamentos das escolas. Infiro, das várias conversas que fui tendo nestes últimos anos, que há lacunas preocupantes em duas áreas muito relevantes: Liderança e capacidade de planeamento desses elementos. Gerir um agrupamento médio, é tão ou mais difícil que gerir uma empresa de média dimensão. Se, para gerir uma empresa e torná-la rentável, é requerido um importante nível de gestão, porque será que neste caso, não haja a obrigatoriedade de ter desenvolvidas tais skills? Senão vejamos; a esmagadora maioria dos agrupamentos tem mais do que 100 colaboradores, entre professores, psicólogos, auxiliares da ação educativa, pessoal administrativo, etc. Tem um número significativo de fornecedores. Tem um elevadíssimo número de clientes (alunos, pais, comunidade geral). Depois deve obediência a uma estrutura administrativa (tutela) como qualquer média empresa. Tem um elevado número de rácios e KPI's que são os seus objetivos tangíveis. Tem um orçamento que é obrigado a saber gerir de forma a ter um retorno, o mais valioso possível. Acresce ainda o facto de, como gestor de uma unidade, não ter a possibilidade de escolher os seus colaboradores, o que obriga a ter de aguentar todos. Mesmo aqueles que não se enquadram na dinâmica que preconiza para a "sua" unidade, leia-se agrupamento. Como vêm, julgo não ser necessário uma grande luminosidade intelectual para concluir que estes elementos, sendo cruciais no desenvolvimento e melhoria de todo o processo educacional, têm obrigatoriamente de ser munidos de formação adequada e direcionada para um trabalho diferente e diferenciador. Será que estão preparados e formados para que a gestão dessas unidades seja verdadeiramente bem feita e ajustada a essa realidade? Para tal julgo que seria imprescindível definir à anteriori quais os critérios para que alguém fosse nomeado diretor de um agrupamento. Não pode chegar apenas, a vontade de mandar ou a vontade de ver o ego massajado. É até, eventualmente, necessário criar uma carreira específica para esse fim. Estas lideranças têm de ser capazes de criar uma corrente motivacional que eleve a autoestima dos professores e tal só se alcança quando conseguirem promover a autonomia, a mestria e o propósito da classe mais importante que um país pode ter. Nem tudo é da responsabilidade da tutela. Há, pois, alguns exemplos de direções que conseguem minimizar, ou mesmo dirimir a desmotivação das suas equipas. Acredito que isto não resolveria todos os problemas da educação, mas acredito que seria um contributo importante porque valorizaria mais a função e com uma capacidade mais hábil de liderar, de forma mais empática, as equipas que constituem cada agrupamento, tornaria mais fácil eliminar com algumas incongruências burocráticas que minam a motivação dos professores. É importante entender que durante muitos anos o ensino pouco evoluiu e a dignificação da classe tem vindo a definhar. Definha, muito por culpa das políticas ziguezagueante, mas não apenas. Há obviamente, também uma parte significativa dos próprios professores. Ora porque não foram capazes de se ajustar a uma nova realidade, ora porque nunca entenderam o verdadeiro poder que têm na sociedade. Relembro que o primeiro sinal de falta de poder é assumir que não têm poder e durante muito tempo alienaram esse poder, delegando a associações sindicais envelhecidas, incongruentes e totalmente alinhadas com as dinâmicas políticas que iam surgindo. Sinal disso é a enorme adesão que têm tido as manifestações que com um foco mais pragmático, tem arrastado uma massa firme e consistente de professores. Mas há algo que é crucial e não pode ser descurado. A solução, embora que garantidamente não seja a única, tem de passar indubitavelmente pela ação dos professores e das suas lideranças e nesse capítulo, tudo começa na capacidade dos diretores dos vários agrupamentos. Por isso é importante que não se lute por mudanças e por regalias que tudo mudam, mas apenas para que tudo fique igual. Assim, obviamente quem perde são os alunos e a formação de todo um país. Era tão bom que não nos esquecêssemos disso!