O mais recente sismo da Turquia/Síria veio colocar, uma vez mais, a descoberto a fragilidade do ser humano perante aquelas que são as Leis da Natureza. Fruto destes acontecimentos, voltou ainda a discussão sobre aquela que é a preparação, ou não, do país para um evento deste tipo. Muitos peritos foram chamados a pronunciar-se sobre os acontecimentos da Turquia e quase todos foram unânimes de que os mesmos, fruto da localização de Portugal, vão acontecer no nosso país, faltando apenas saber o dia e a hora. Foram também quase unânimes em reconhecer que o país não está minimamente preparado para os efeitos de um sismo dessa magnitude e que, quando acontecer, os resultados serão igualmente catastróficos (se não piores). A reboque destes acontecimentos, o presidente da Câmara Municipal de Lisboa, Carlos Moedas, veio puxar dos galões de engenheiro civil e afirmar: "Gostava de deixar aqui alguma tranquilidade sobre a preparação que Lisboa tem em relação a potenciais sismos, e todos nós sabemos que vivemos numa zona do país em que estes sismos podem acontecer. Como engenheiro civil e como alguém que trabalhou nesta área, a nossa cidade está extremamente preparada." Carlos Moedas sabe que tal não é verdade e sabe também que a maioria das infraestruturas críticas da capital não está minimamente preparada para o efeito. Declarações deste tipo, além de muito graves para alguém com a sua responsabilidade, têm também o efeito pernicioso de, junto das populações, incutir um falso sentimento de segurança e, com isso, contribuir para a falta de uma cultura de autoproteção. Se a semana de Carlos Moedas já não estava a correr bem, pior ficou quando, na sequência do incêndio ocorrido na Mouraria e que vitimou duas pessoas, trouxe à tona a realidade de muitos imigrantes em Portugal. O autarca lisbonense veio sacudir a água do capote, empurrando as culpas para os imigrantes e para políticas de imigração afirmando: "Precisamos desses imigrantes, mas têm de vir para os países com dignidade e têm de vir para os países com contratos de trabalho". Curioso é o facto de neste caso concreto não ter sacado dos galões e assumir que a culpa não é dos imigrantes, mas sim de uma política errática de habitação, que, no caso de concreto de Lisboa, é da sua inteira responsabilidade enquanto presidente da Câmara. Este discurso a roçar o xenófobo só não foi pior porque o líder do seu partido, numa tentativa de rivalizar com o Chega, proferiu declarações ainda mais inapropriadas ao defender que o país deve receber imigrantes "de forma regulada" e "procurar pelo mundo as comunidades que possam interagir melhor com os portugueses". Estas declarações, por si, já são inaceitáveis, sendo-o mais ainda num país que tem na sua diáspora uma das suas maiores riquezas. Ainda a este respeito de sacar dos galões, teria também sido muito apreciado pelos portugueses se o mesmo Moedas deles tivesse puxado quando, a propósito do exorbitante custo do altar/palco, tivesse vindo dizer que estávamos a ser vítimas de um roubo e que só as negociatas típicas deste tipo de eventos proporcionam tais desvarios económicos. Isto de puxar dos galões e de ter rabos de palha costuma dar asneira! Contenção no discurso e conhecimento da história são bons "remédios" para uma praxis política responsável.