MAFALDA FERNANDES
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Os agapantos da Torreira
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OPINIÃO | O fenómeno era perfeitamente visível em Cabeçais
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O agapanto é uma flor própria para espaços públicos, mais do que para alguns jardins particulares, dado o seu tamanho que obriga a dispensar-lhe muito espaço. A flor pode ser azul ou branca e a planta, em si, é muito alta e erecta. São João da Madeira já foi, há uns bons anos, a cidade dos agapantos, na medida em que todas as suas rotundas e canteiros se encontravam decorados com esta planta. Agapantos é o seu nome científico, é o único género da subfamília agapanthoidea da família de plantas com flor e amaryllidaceae pertencente à ordem. Não havia rotunda no concelho de S. João da Madeira, que só possui uma freguesia e o maior rendimento "per capita" do pais, diz-se, que não tivesse sido ornamentado com agapantos azuis e brancos. Hoje, a vida da Torreira, do concelho da Murtosa, localidade da ria de Aveiro, encontra-se, timidamente ainda, a ornamentar os seus espaços públicos com esta vistosa flor. Como tem sido referido, ajardinar os espaços públicos é de toda a conveniência para fomentar a polinização e evitar a extinção das abelhas. A Torreira é uma bela vista piscatória onde se trabalha do lado do mar e do lado da ria. Os serviços municipalizados são notáveis, há um comércio todo ele um tanto ou quanto amedrontado, uma restauração de sucesso, mas a questão é que, sente-se, sobre esta bela vila paira um certo manto de desertismo que lhe advêm da existência de um grande número de moradias sempre desertas, que, na actualidade, nem no Verão são habitadas, uma vez que os seus proprietários preferem as praias da Costa Vicentina ou os Barlaventos Algarvios. Um tanto mais adiante, no sentido de Aveiro, situa-se a vila de S. Jacinto, que faz parte do roteiro turístico de fim de semana de tripeiros ou não tripeiros que procuram estas paragens para espairecer, alimentar a alma e o corpo. Arouca e algumas das freguesias deste concelho foram, desde há tempos imemoriais, ligados às terras circundantes da ria de Aveiro. E pertencem, embora algumas situadas no Douro Litoral, ao distrito de Aveiro. Pelo que, de uma forma ou doutra, estas paragens são a sua, deles arouquenses, uma segunda habitação. Em Aveiro, isto entre 1939 e 1945, há mais de setenta anos, havia uma escola de ciências de aeronáutica, em S. Jacinto. Os cadetes faziam parte da paisagem invulgar que é o delta do Vouga e da ria de Aveiro com todos os aspectos económicos adequados que o facto comportava. Era tempo de guerra na Europa. Os caças alemães de Hitler estavam rigorosamente proibidos de sobrevoar o espaço aéreo português. E, como a proibição simples não era suficiente para os impedir, de sobrevoar o espaço aéreo português, do aeródromo de S. Jacinto, todas as noites, eram emitidos grandes jactos de luz que se moviam no céu escuro à procura de algum caça alemão furtivo. Eram os holofotes. O fenómeno era perfeitamente visível em Cabeçais e os seus moradores sentavam-se nas escadas da antiga Loja Nova a apreciar as manobras luminosas dos aviadores de S. Jacinto. E não consta que tenha havido, no nosso país, qualquer bombardeamento destrutivo durante a Segunda Guerra Mundial. Não se compreende por que motivo o aeródromo de S. Jacinto não está activo, como um polo de ciências aeronáuticas militares e civis. A juventude das vilas e cidades da ria de Aveiro merecem-no activo e actuante. E, se há porventura aí alguém que é contrário ao militarismo de prevenção, dizemos como costumam dizer os franceses: "on ne sait jamais!", que, em português, quase palavra a palavra, significa: nunca se sabe.
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