No artigo de opinião anterior abordei as questões relacionadas com a saúde mental dos jovens. De facto, são os jovens os que mais sofrem as consequências da pandemia no que respeita à saúde mental. No entanto, as pessoas com mais de 65 anos também viram a sua saúde mental agravar durante a pandemia, principalmente os sintomas depressivos. A depressão é uma das principais causas de anos vividos com incapacidade, sendo comum nas pessoas com mais de 65 anos. A inatividade após a reforma, o luto de familiares e amigos, o sentimento de solidão e o isolamento são alguns dos fatores que contribuem para a elevada prevalência de depressão nesta faixa etária. Em determinadas situações não é uma situação orgânica que conduz à incapacidade e dependência, mas sim a depressão. Um dos sintomas de depressão é a falta de vontade e de motivação para realizar as tarefas do dia a dia, condicionando a capacidade de autocuidado da pessoa. Ora, se a pessoa sofrer um acidente vascular cerebral (AVC) ou uma fratura óssea vai necessitar de um período de reabilitação para a recuperação. Se ao mesmo tempo tiver depressão, ainda que a sua capacidade física lhe permita recuperar a independência, os sintomas depressivos, como a falta de motivação para a reabilitação, poderão levar a pessoa à dependência. Muitas vezes a depressão não é detetada sendo a falta de vontade e de motivação vulgarmente apelidada como preguiça, o que não é verdade se estivermos perante sintomas depressivos. É por isso importante estarmos atentos a estas situações para que haja uma deteção precoce do problema e se recorra a reabilitação psicossocial. Em Portugal, vivemos num paradigma demográfico e epidemiológico com um perfil transfigurado, isto é, vivemos mais anos e passámos a ter uma clara prevalência de doenças crónicas, principalmente sob a forma de multimorbilidade. Este facto multidimensional, surge como um desafio, na medida em que, resulta num incremento da pressão sobre o sistema de saúde. Apesar da Saúde Mental ser parte integrante da saúde, as políticas e os modelos de cuidados não têm respondido de forma eficaz aos desafios da depressão, pela falta de recursos na área da saúde mental. Dados de um estudo europeu indicam que durante a pandemia houve um aumento de 21,9% na prevalência de sintomas depressivos em pessoas com mais de 65 anos, sendo Portugal o país com maior aumento na prevalência destes sintomas (39,4%), seguido de Itália (30,8%) e Espanha (28,2%). Por outro lado, a Dinamarca, Eslovénia e República Checa foram os países que reportaram um menor aumento na prevalência destes sintomas (10,3%; 10,6% e 10,8%, respetivamente). Importa perceber quais os fatores que contribuíram para este aumento no sentido de nos prevenirmos em situações futuras. Uma análise a vários estudos internacionais, realizados durante a pandemia, com pessoas com mais de 60 anos, permitiu descobrir alguns desses fatores. Podemos dividir estes fatores em dois grupos, os que já eram conhecidos e já existiam antes do período pandémico e os que estiveram diretamente relacionados com a pandemia. Ser mulher, ter baixos níveis de escolaridade, ter limitações na funcionalidade, sentimentos de solidão, um apoio social reduzido e baixos níveis socioeconómicos estão associados a mais sintomas depressivos. Ou seja, contribuem para o aparecimento da depressão. Por outro lado, as mudanças sociais resultantes do período pandémico, como as medidas de confinamento e um menor acesso aos cuidados de saúde; o stress e as preocupações relacionadas com a pandemia, como o medo de contrair o vírus ou transmitir o vírus a outros; o acesso diário à informação sobre a COVID-19 através do media, contribuíram para o aumento dos sintomas depressivos. Destaco um fator que me parece relevante abordar, as questões socioeconómicas que urgem resolver no nosso país. Está mais do que provado, que quanto mais baixo o nível socioeconómico das pessoas pior é a saúde, quer seja a saúde mental ou a física.Com o custo de vida a aumentar, sem haver aumento dos salários e das pensões que acompanhem o aumento do custo de vida, avizinha-se um cenário nada abonatório para a saúde das pessoas. A mudança que se pede às políticas de saúde centra-se em cuidar dos mais dependentes e vulneráveis, com estratégias de apoio à Saúde Mental. Estejamos atentos a nós próprios e aos outros! A qualquer sinal de alerta não se iniba de pedir ajuda. O silêncio não é a solução.