ASSOCIATIVISMO
 
«Unidade de Cuidados Continuados e Ginásio Fisiátrico entre os novos projectos a caminho»
 
Edgar Soares
ENTREVISTA | Edgar Soares, presidente da Casa do Povo de Alvarenga, instituição social a comemorar 50 anos
 
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As Casas do Povo foram o elemento primário da organização corporativa do trabalho rural, ainda durante o regime corporativista do Estado Novo. Hoje em dia são, essencialmente, associações locais com fins sociais e culturais. A partir de 1982 as Casas do Povo passaram a ter o estatuto jurídico de pessoas colectivas de utilidade pública, de base associativa, tendo como finalidade o desenvolvimento de actividades de carácter social e cultural e a cooperação com o Estado e com as autarquias locais, com vista à resolução de problemas que afectem a população local. No concelho de Arouca foram criadas duas na década de 1970: a de Arouca e a de Alvarenga.
Este ano, a Casa do Povo de Alvarenga celebra meio século de vida, tendo no seu Lar da Terceira Idade e no Rancho Folclórico as suas principais valências ao serviço da população da freguesia. Edgar Soares, 73 anos, é o presidente da instituição, figura emblemática da região, que muito tem dado de si no seu desenvolvimento a vários níveis.
No ano em que a Casa do Povo festeja o cinquentenário de vida, RODA VIVA ouviu o seu timoneiro que no seu estilo habitual, dinâmico e solidário, fez o balanço da longa caminhada e apresentou alguns projectos que estão em marcha. Parabéns Casa do Povo de Alvarenga! JCS

A sua Casa do Povo, fundada em 1973, completa este ano meio século de vida. Que balanço faz deste longo período?
A Casa do Povo de Santa Cruz de Alvarenga [CPA] é, logo a seguir à Sociedade Filarmónica e o Grupo Desportivo, a instituição mais antiga de Alvarenga, fundada por despacho governamental, com data de 10 de Setembro de 1973, como Instituição de Utilidade Pública e, mais recentemente, também por despacho governamental, de 17 de Janeiro de 2007, recebeu o estatuto de Instituição Particular de Solidariedade Social. Desde a sua criação, onde se envolveram um núcleo de ilustres alvarenguenses, entre tantos, damos nota da sua comissão instaladora, nas pessoas dos senhores José Narciso Teles de Figueiredo, Artur Ribeiro e Luís Tavares Mendes, respectivamente, presidente, secretário e tesoureiro. Até ao ano de 1984, releva-se o seu importantíssimo desempenho junto da comunidade local, muito prestigiado, sendo um dos principais elos de ligação entre os organismos do estado e a população, tanto nos sectores sociais como no atendimento à saúde e outros, razões pelas quais foi sempre ficando no coração das pessoas. Com a extinção das Juntas Centrais das Casas do Povo, entidade que tutelava as Casas do Povo, em 1984, já com algum património edificado, cedeu instalações para as instalações da sede da Junta de Freguesia, da Administração Regional de Saúde, para o Posto Médico e para o Centro Regional da Segurança Social, para um balcão de atendimento que, entretanto, veio lamentavelmente a fechar aqui as suas portas. Já em 1976, deu berço ao Rancho Folclórico de Alvarenga que ficou com a designação de Rancho Folclórico da Casa do Povo de Santa Cruz de Alvarenga, mimando até aos dias de hoje, com alguns fait-divers, a sua dinâmica social e logística. Com tais pergaminhos no seu currículo, no ano de 2006, com a tomada de posse de um novo elenco directivo, deu-se início a todo um processo que mobilizou um largo núcleo de sócios amigos e benfeitores para que todos juntos pudéssemos dar vida à construção das instalações desenhados num ambicioso projecto para servir, prioritariamente, de apoio à terceira idade e à primeira infância. Após um período de muitas convulsões burocráticas que lá se foram superando, mais as resultantes do granjear do pecúlio necessário, o que mais parecia um sonho, teve o seu assombro, em Junho de 2011, com a inauguração destas novas e grandes instalações que albergam no seu todo uma valência "ERPI" (Estrutura Residencial Para Idosos), uma valência "Creche" e uma valência para "Apoio "Domiciliário", havendo ainda a notar a nossa ligação ao Banco Alimentar de Aveiro, através do qual damos apoio a uns tantos carenciados desta freguesia nele inscritos.

A CPA tem vindo alargar o seu raio de acção, sobretudo a nível do apoio social à 3ª idade e apoio domiciliário. Tem sido uma aposta sustentável?
Relativamente ao possível alargamento do nosso raio de acção, ele passa sobretudo pelas oportunidades e necessidades que nos possam ser colocadas, por parte da tutela ou outros parceiros, para as quais vamos procurando estar os mais atentos, também no limiar das nossas possibilidades, procurando não envolver-nos em exageros que no futuro possam motivar dificuldades de maior monta, ou mesmo arrependimentos...

Que novos projectos tem em forja a instituição a que preside?
Actualmente, temos vindo a trabalhar, e isso basta-nos, para um possível alargamento das nossas valências para uma "Residência Autónoma", já com uma candidatura em fase de análise, e para uma outra valência de grande alcance social que integrará uma "Unidade de Cuidados Continuados com
Ginásio Fisiátrico", aguardando-se para este objectivo apenas a abertura dos necessários "corredores económicos", posto que temos já todos os projectos elaborados e superiormente aprovados.

Quais as maiores dificuldades com que a instituição mais se tem debatido?
Até à data, reconhecendo-se as naturais dificuldades de um meio rural, que é o nosso, onde os recursos em todas as suas vertentes não abundam, temos vindo a ganhar estas apostas, a que nos devotamos de alma e coração, com relevância para as muitas manifestações de carinho solidário dos utentes, dos nossos sócios, amigos e benfeitores, mais dos que nos vão chegando da tutela e mais parceiros institucionais que, embora considerados sempre escassos, muito prezaremos para a prossecução dos nossos objectivos.

A CPA é, certamente, a maior empregadora da freguesia. Isso traz-lhe uma responsabilidade social acrescida?
Sim, neste momento temos a consciência que a Casa do Povo é a entidade com mais empregabilidade na freguesia, com os seus já mais de 50 funcionários, em todas as suas valências. Na verdade, uma das nossas maiores dificuldades momentâneas começa a estar no recrutamento de pessoal. Nota-se já no meio um acréscimo da população escolar e em particular da nossa creche. De relevar que uma das nossas prioridades, aquando da admissão de pessoal, ao contrário do que é comum, era para as grávidas. Actualmente, em Alvarenga, começa-se já a constatar, com alguma inquietude, a falta de oferta de casas para habitação e as que ainda vão aparecendo, em regime de aluguer, em "fuga" ao "alojamento local", que tem vindo a prosperar na região, são uma das dificuldades cada vez mais sentidas, refletindo-se sobretudo nos preços dos arrendamentos que, como acontece um pouco por todos os lados, têm vindo a aumentar, penalizando a fixação, em primeira linha, dos casais mais jovens.

A população tem apoiado a instituição ao longo destes anos na concretização dos seus projectos?
Os alvarenguenses, não só os residentes como os outros tantos que vamos identificando pelos quatro cantos do mundo, mais os seus mobilizados amigos, todos eles benfeitores, identificados e cadastrados nos nossos mais de seiscentos associados, têm vindo a dar-nos o alento possível para que nos mantenhamos esperançosos no futuro e será só assim, unidos neste que é um grande dogma de "solidariedade", que deve ser comum de todos, alimentamos a esperança.

E as entidades públicas municipais, Câmara e Junta?
Como é natural dizer-se, no nosso caso, por mais que sejam os apoios públicos, eles nunca chegarão para colmatar as necessidades daqueles que como nós, de uma forma voluntária e altruísta, têm que alimentar a riqueza humanista de quantos nos procuram na busca do melhor bem-estar e conforto, penalizados tantas vezes por uma sociedade tão problemática como a nossa, com prejuízo nas enfermidades e desconfortos que os consomem e a que teremos de atender com a maior elevação em todo o trato. Certo é que para darmos as melhores respostas, também necessitamos de receber, de quem de direito e dever, as melhores respostas. Os rateios públicos mais pecam quando teimam em "tratar de igual modo aquilo que é diferente". Deste modo, ao dizermos obrigado, nem sempre o contrário se verifica, o que nos chega a incomodar, principalmente pelos muitos sentimentos que representamos. Dos orçamentos autárquicos, recebemos as verbas e os apoios que mais se lhes afiguram razoáveis, mas que, como é óbvio, jamais têm extravasado o que é expectante, e ficamos por aqui...

O Rancho Folclórico da Casa do Povo tem sido um embaixador cultural e etnográfico da freguesia. Quais as principais dificuldades na manutenção do agrupamento?
O nosso Rancho Folclórico tem-se mantido e mantém-se ao longo daquele que é já um largo percurso, com 46 anos, como uma das nossas "jóias da coroa", com múltiplas vivências de dificuldades e prosperidades. Ele é hoje um dos melhores embaixadores do nosso património etnográfico, com os
seus grupos sénior e juvenil, que brilham e embelezam qualquer dos palcos pelos quais vão passando a nível local, regional, nacional e até internacional. Muito nos orgulha ao desfraldar a nossa bandeira, aquando das suas apresentações, com as suas danças e cantares, não se vislumbrando no momento
outras dificuldades na sua manutenção.

O futuro da Casa do Povo de Alvarenga está assegurado para os próximos anos?
Pensamos que o futuro a Deus pertence! Todavia, para o homem, ficou a liberdade a arte e o engenho de dar vida ao sonho que, como dizem os poetas, "é uma constante da vida". A Casa do Povo de Santa Cruz de Alvarenga terá sempre o futuro que cada um de nós lhe queiramos emprestar e merecer a todo o tempo.

Que prenda gostaria que a instituição recebesse nas suas bodas de ouro?
Sem dúvida que a melhor prenda que podemos ambicionar neste nosso 50.º aniversário é a de que tenhamos a melhor Paz e Prosperidade, na continuidade. Mais, que essa Paz e Prosperidade passam passar pelo lançamento dos projectos que temos em carteira e são eles, o da "Unidade de Cuidados Continuados e Ginásio Fisiátrico", bem assim o da "Residência Autónoma".

Qual é o segredo para a vitalidade associativa de Alvarenga, numa altura em que a desertificação começa a ser cada vez mais uma dura realidade?
Efectivamente, vai sendo cada vez mais difícil granjear as melhores disponibilidades para ocupar os cargos de voluntariado para os órgãos sociais, a nível do associativismo e até dos mais institucionais, principalmente quando esses cargos não são remunerados. Alvarenga não foge muito a esse factualismo, restando-nos, porém, algumas vontades emergentes de um passado de "carolas" e lá se vão mobilizando em última instância, para arribar uns tantos e as coisas lá se têm vindo a aguentar, ficando eu desta feita, com muita mágoa pelo "deserto" que ensombrou o Grupo Desportivo Santa Cruz de Alvarenga...

É uma figura emblemática que tem dado muito de si em prol da freguesia, desde muito jovem. O que ainda o motiva nestas andanças, sabendo que todo o seu trabalho assenta numa base de carolice?
Como é dito, na realidade, durante toda a minha vida, sempre fui dando de mim a este torrão Natal que se foi estendendo por todo o concelho de Arouca, quando sempre estive ao lado das suas maiores e legitimas ambições, na busca do seu mais prospero desenvolvimento sócio-económico e em todas as outras vertentes. Enquanto vereador, marquei presença nos mandatos do professor Joaquim Brandão de Almeida, do professor Zeferino Brandão e do doutor Armando Zola, com este a tempo inteiro, tendo plena consciência do dever cumprido e de ser o autarca com mais tempo ao serviço do Município e das suas colectividades. Tal como outrora, motivam-me as reminiscências do passado, as dúbias certezas do presente e a volúpia na construção das melhores perspectivas para o futuro.

Sente o reconhecimento dos alvarenguenses pela sua permanente entrega à freguesia em diversas áreas (social, política, cultural e desportiva)?
Pese embora o mau arbítrio de uns tantos, eu nunca procurei agir ao longo da minha vida, também social, para ganhar reconhecimentos casuísticos que normalmente se tornam efémeros e ferem no após com a ingratidão. Aqui e ali, tenho-me deixado mergulhar em algumas praias, sem ressentimentos que me possam consumir emocionalmente, dando-me algum alento às alegrias, apesar das dores ocasionais que, como humano, por vezes me invadem a mente e, quando assim é, fico triste.

Como gostaria de ser recordado?
Esta para mim é a questão da mais difícil resposta! Numa introspecção momentânea, creio-me como um ser possuído de uma retórica um tanto controversa, para uns tantos, e de uma crente rebeldia, para outros, no entanto sóbria e muito amistosa, entre muitos outros predicados, procurando sempre beber nos ensinamentos de um berço com princípios de uma vida doutrinária diametralmente enriquecida, com o intuito de poder "Fazer bem sem olhar a quem", pese embora alguns agastamentos pelo caminho. Talvez não fique mal que me possam recordar assim, um entre tantos!... 2023-03-27

 
Arouca

Terça, 30 de Maio de 2023

Serviço temporariamente indisponível!

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A Frase...

"Neste ambiente associativo todos são precisos"

Diogo Teixeira, presidente do Centro Desportivo e Recreativo de São Pedro de Nabais, em entrevista ao RV

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